As campanhas de vacinação brasileiras são sempre protagonizadas pelas crianças. Uma ou duas vezes por ano, são elas que dão os braços à agulha nos postos de saúde. O que a maioria dos marmanjos que as carregam no colo não sabem – ou fingem não saber – é que os adultos também têm um calendário de vacinação a seguir. Poucos, no entanto, cumprem essa tarefa. Isso faz com que grande parte dos adultos e adolescentes do País fique exposta a sérios riscos de saúde. “Se alguém acha que está protegido porque foi vacinado quando era pequeno deve saber que não está. A maioria das vacinas foi criada recentemente”, alerta a pediatra Isabela Ballalai, vicepresidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM).

Essa negligência pode custar caro. O índice de letalidade da catapora, por exemplo, é 30% mais alto nos adultos que nas crianças. “Geralmente, os surtos começam com algum infectado em idade madura”, diz a médica Maria Cristina Senna, diretora da clínica Neovacinas, do Rio de Janeiro.

O problema preocupa e está obrigando as autoridades a tomarem iniciativas. Este ano, por exemplo, alguns Estados e municípios realizarão de 5 a 11 de agosto a Semana de Vacinação do Adulto. Também está prevista para 2008 a maior campanha de vacinação contra a rubéola já realizada para essa faixa etária. E o Ministério da Saúde também instituiu o calendário de vacinação específico para adultos e adolescentes.

Hepatite, catapora, difteria, rubéola e sarampo são algumas doenças que podem acometer qualquer adulto sem a proteção adequada. Há quem nunca tenha tomado vacinas contra esses males ou que não tenha renovado a dose. “A vacina de coqueluche dá proteção por dez anos. Um pai que a tomou apenas quando era criança pode estar infectando seu filho sem saber”, diz Maria Cristina. Em muitos casos, a imunização pode ser feita de graça, no posto de saúde.

Não há estatísticas confiáveis, mas sabe-se que a cobertura vacinal dos adultos do País é baixíssima. É certo que ela melhorou nos últimos anos por conta da imunização contra a gripe, que acaba atraindo muitos idosos aos postos. “Existe a idéia de que vacina é uma necessidade de crianças e idosos, mas isso não é verdade”, diz Isabela Ballalai. No Exterior, o quadro não é radicalmente diferente, mas em muitos países os cidadãos pelo menos procuram os postos de vacinação sempre que viajam. No Brasil, nem isso. Aos que tentam compreender o fato por meio de complexas teses, a doutora Isabela contrapõe uma explicação mais simples. “O que mais assusta o adulto é a agulha”, diz. “E os homens são os piores”, afirma.