Em certo momento, o monossilábico Lucius Hunt, personagem de Joaquin Phoenix em A vila (The Village, Estados Unidos, 2004) – que estréia no País na sexta-feira 3 –, libera-se do seu transe de tristeza e, num monólogo reflexivo, diz para alguém: “Há segredos demais em cada canto desta vila. Você não sente, não vê?” Na verdade, todos sentem, todos vêem, mas o medo que paira sobre o vilarejo deixa a pequena população cega diante dos fatos. São mistérios, sempre acalantados pelos mais velhos, que incitam a proibição rígida de qualquer pessoa atravessar a fronteira delimitada entre a comunidade e o sombrio bosque onde habitam criaturas que, de tão cruéis e horrendas, são chamadas de Aquelas-de-quem-não-falamos. É assim, com pequena referência a Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, o Lord Voldemort da vitoriosa série Harry Potter, que o diretor americano de origem indiana M. Night Shyamalan dá partida ao seu mais recente filme, depois dos criativos O sexto sentido e Corpo fechado e do abobado Sinais.

Sempre envolvido com o sobrenatural, Shyamalan desta vez quis retocar o gênero. Sua intenção é levada a contento. Os sons vindos do bosque, a luz noturna – bela e horripilante – e o pavor incrustado das pessoas só de ver a cor vermelha, signo da maldade circundante, criam uma atmosfera de terror em torno do não palpável. Apoiado em bons atores, entre eles William Hurt, Sigourney Weaver e Adrien Brody (de O pianista), ótimo na composição de um doente mental atormentado por uma paixão não realizada, o diretor também consegue boas soluções. Poderia ser mais econômico na história, mas as revelações aos poucos surpreendentes explicam que o medo do irreal, na verdade, é um medo da vida.