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 O sargento da Polícia Militar Jorge Palinha, 48 anos, vai às lágrimas ao relembrar uma tarde, em 2001, em que agiu para evitar um assalto e virou alvo dos bandidos. Não morreu porque rolou várias vezes no chão sob a chuva de tiros. Quando ficou de pé não era – e jamais voltaria a ser – a mesma pessoa. Porém, ao invés de reconhecimento da parte de seus superiores sobre o dever cumprido, Palinha diz ter sido tratado com desdém por seu comandante, que levantou contra ele a suspeita de conivência com os assaltantes – acusação descartada pelo Ministério Público.

"Arrisquei minha vida e, em troca, vi minha honra ser jogada na lama", conta o sargento. O stress e a injustiça deixaram sequelas psicológicas: síndrome do pânico, depressão, angústia. "Passei a ser agressivo, minha mulher sofreu muito, quase atirei em meus próprios filhos", recorda, emocionado. Desgostoso com a corporação, conseguiu seu desligamento da PM do Rio de Janeiro no início de março. "O auxílio psíquico que tive ali foi zero", reclama. Recente pesquisa da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 18 Estados, mostra que a qualidade do atendimento psicológico aos policiais é péssima, deixando desamparados homens que diariamente se confrontam com situações de extrema tensão e, o pior, de arma na mão.

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"O auxílio psíquico que tive foi zero. Passei a ser agressivo, minha mulher sofreu muito, quase atirei em meus próprios filhos"

Jorge Palinha, ex-policial militar

 Dos 847 profissionais de saúde lotados nas polícias, apenas 7,46% são psicólogos. "A quantidade de profissionais na área de psicologia está muito abaixo do ideal", lamenta o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri. A Senasp iniciou um Programa de Gerenciamento de Estresse em dez Estados. Os policiais confirmam a carência. Segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados da PM de São Paulo, Wilson Moraes, a corporação tem apenas três psicólogos para atender mais de 100 mil homens. A PM do Rio informa ter "49 oficiais psicólogos e 12 psicólogos civis", mas o presidente da Associação de Ativos e Inativos da PM, Miguel Cordeiro, afirma que não passam de dez em atividade. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal, Wellington de Souza, faz coro: "Temos em Brasília apenas cinco psicólogos. Desde que entrei na polícia, há 20 anos, nunca mais passei por avaliação para saber se tenho condições de portar uma arma."

Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, no fim do ano passado, com 1.300 policiais militares revelou que metade deles dorme mal, sente-se tensa ou agitada. "Podemos identificar como facilitadores do sofrimento mental a falta de treinamento, a jornada excessiva, o pouco descanso e as precárias condições materiais e técnicas", afirma Maria Cecília Minayo, autora da pesquisa.