Dos candidatos com ficha suja, o eleitor brasileiro já está careca de saber. Paulo Maluf e Amazonino Mendes, que concorrem às Prefeituras de São Paulo e Manaus, são figuras que dispensam comentários e que pertencem à velha politicagem consagrada como “rouba-mas-faz”. Isso não significa, no entanto, que a lista divulgada na semana passada pela Associação dos Magistrados do Brasil, com os candidatos que respondem a processos criminais, seja de todo inútil. Em nome da transparência, quanto mais informação estiver ao alcance do eleitor, melhor. O problema, porém, é outro. Diz respeito aos políticos com bons antecedentes, que podem ser até mais nocivos do que os “fichas-sujas”, se a única régua para medir a eficiência de um gestor público for mesmo a da ética. O Brasil, por exemplo, é governado por um mito-operário de ficha limpíssima que manchou seu primeiro mandato com o mensalão. No segundo, eclodiram escândalos “menores”, como a descoberta da venda ilegal da Varig ao cliente do seu compadre.

O Estado de São Paulo, por sua vez, também tem um ficha limpa no comando, o governador José Serra, que faz de tudo para abafar as propinas do caso Alstom. Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves, de reputação ilibada, já foi citado numa planilha do valerioduto mineiro. No Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, se vê às voltas com denúncias de mensalinho na Assembléia Legislativa e não consegue explicar a compra de uma mansão em Porto Alegre. Por onde quer que se ande, sempre haverá um ficha limpa metido em algum escândalo. E 99% deles não respondem a qualquer ação na Justiça. Isso demonstra que as listas com nomes de “corruptos de plantão” correm o risco de ser arbitrárias e injustas.

Políticos com bons antecedentes podem ser bem mais perigosos. Seus mensalões quase sempre são perdoados

Em alguns casos, quando a distância é sutil, elas podem transmitir ao eleitor a falsa noção de que alguns candidatos merecem mais crédito do que outros. Na disputa mais importante do ano, em São Paulo, a favorita Marta Suplicy caiu na relação dos magistrados em função de suspeitas numa licitação. Enquanto isso, seu principal oponente, Geraldo Alckmin, ficou de fora, a despeito dos escândalos com a publicidade da Nossa Caixa e com as compras do metrô. Outro aspecto relevante da discussão é a politização da Justiça. Num país onde os governantes têm o hábito de fabricar escândalos contra adversários e até mesmo contra os seus aliados, que às vezes insistem em cobrar caro demais pelo apoio parlamentar, essas listas podem vir a causar mais danos do que benefícios. E, quem sabe, ajudarão até a ocultar os mensalões do presente, que serão esquecidos e perdoados. Caiu a ficha?