Após vários anos fora das manchetes, a inflação voltou com toda a força. No início, os aumentos dos preços dos alimentos e do petróleo foram considerados os principais responsáveis por esta volta. Por serem bens cuja demanda tende a aumentar de forma relativamente lenta, as principais análises apontavam a origem do fenômeno como sendo “choques de oferta” decorrentes de problemas climáticos (alimentos) e geopolíticos (petróleo).

Como as pressões inflacionárias tinham como causa choques de oferta, os bancos centrais teriam pouco a fazer para combatê-las, exceto esperar que os problemas climáticos e geopolíticos fossem resolvidos e que a oferta retornasse ao seu nível normal. Em outras palavras, nada de aumento de juros e redução do ritmo de crescimento.

Esta análise se mostrou totalmente equivocada. Os aumentos dos preços dos alimentos, do petróleo e das commodities em geral não decorrem de choques de oferta, mas sim do excesso de demanda devido ao rápido crescimento das economias emergentes, principalmente China e Índia. Estes dois países correspondem a mais de 30% da população mundial, têm ainda mais de 50% de sua população vivendo no campo, estão passando por um processo intenso de urbanização e crescendo a taxas acima de 10% ao ano, o que significa 49% do crescimento mundial. Por serem grandes, populosas e em processo de urbanização, são economias cujo crescimento é extremamente intensivo em alimentos (a urbanização reduz a oferta e aumenta a demanda por alimentos), em infra-estrutura (intensivo em commodities metálicas) e em energia (petróleo).

Os aumentos dos preços das commodities geraram uma melhora substancial nos preços dos bens exportados por várias economias emergentes, inclusive o Brasil, propiciando um período relativamente longo de crescimento na maioria destes países.

O resultado desta combinação é um crescimento da demanda bem maior que o da oferta mundial destas commodities (alimentos, petróleo, metálicas, etc.) e forte pressão sobre seus preços. Com as economias crescendo a taxas elevadas, esta pressão sobre os preços das commodities se espalhou para os outros preços na economia, caracterizando um quadro clássico de inflação generalizada. Nestas condições, a única solução conhecida são políticas monetárias mais rigorosas, aumento dos juros e menor crescimento mundial.

Porém, para cada país, individualmente, o melhor é que os outros façam o ajuste. Se um país isoladamente aumenta a taxa de juros e reduz seu crescimento, o efeito sobre os preços das commodities será muito pequeno e o custo necessário para reduzir a inflação será muito maior. Por outro lado, se todos os outros países aumentarem seus juros e ele não o fizer, o efeito sobre os preços das commodities será grande e o país que não aumentou os juros se beneficiará mais que os outros.

Ou seja, para cada país, individualmente, a melhor estratégia é fazer nada e esperar que os outros façam o “trabalho sujo” de aumentar os juros. Mas, se todos se comportarem desta forma, a conta não fecha e a inflação se perpetua. E foi isto o que ocorreu ao longo do segundo semestre de 2007 e início de 2008. O resultado foi que a inflação se acelerou em nível mundial, inclusive no Brasil.

Diante desta realidade, praticamente todos os bancos centrais (exceto o americano) começam a adotar uma atitude mais responsável, aumentando as taxas de juros na tentativa de reduzir as pressões inflacionárias. O processo ainda está em seu início, mas está cada vez mais claro que o mundo vai ter que crescer menos para reduzir a inflação.