sofisticad.jpg

 

 

 

Em meio a tantos aromas e sabores sublimes, os colecionadores tradicionais têm sentido um gosto amargo ao degustar vinhos especiais. Nos últimos três anos, os preços dos mais aclamados vinhos da região de Bordeaux, na França, atingiram níveis recordes, inflacionados por novos compradores cheios de dinheiro, sobretudo russos e chineses. Ao contrário de apreciadores tradicionais, que elevam gradualmente a qualidade dos vinhos que tomam, os novos ricos querem começar suas experiências dionisíacas direto no topo. “São os bebedores de rótulo”, diz Mariano Levy, proprietário da importadora Grand Cru.

O melhor exemplo vem de um clássico de Bordeaux: uma caixa de Château Lafite Rothschild 1996, que há seis meses era vendida em Londres por £$ 4.200 (cerca de R$ 16 mil), não sai hoje por menos de £$ 7 mil (cerca de R$ 28.500). O índice Liv-ex 100 (formado com base no preço dos 100 melhores vinhos para se investir no mundo) subiu 42% só neste ano – é o mais alto nível desde sua criação. “Para esses novos milionários, quanto mais caro melhor. Eles tratam os vinhos como commodities. É como um objeto de poder”, diz Arthur de Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP). Celso La Pastina, dono da importadora World Wine, diz que a subida meteórica dos preços fez com que seus clientes de longa data “tirassem o time de campo” – ou seja, as vendas caíram substancialmente. “Esses vinhos caríssimos, eu não tenho mais para vender. Só compro sob encomenda. Os preços ficaram impraticáveis”, afirma La Pastina.

Recentemente, o jornalista britânico especialista em vinhos Jim Budd declarou que a cada dia se tornam mais remotas as chances de uma pessoa normal provar os melhores do mundo. Mariano Levy concorda. “A tendência dos preços é continuar a subir. A produção desses vinhos é limitadíssima, e cada vez mais aumenta o número de milionários dispostos a gastar o quanto for preciso para tê-los.”