i51934.jpgPraia, sombra, água fresca – e pingüins. Pingüins de 70 centímetros de altura, andar desengonçado como é marca da espécie, pingüins em meio a batucadas, água-de-coco, refrigerantes, sorvetes, acarajés. Eles estão em pleno mar e na areia de Salvador, sob o calor de 35 graus, vindos, ou melhor, perdidos do bando migratório que partiu da gelada região argentina da Patagônia. Pingüim olha assustado o banhista, banhista olha curioso o pingüim. Ao todo, são 25 da espécie Pingüim de Magalhães (Spheniscus magellanicus) que se estima tenham nadado num pique de 40 quilômetros por hora ao longo de mais de sete mil quilômetros até abordarem o Nordeste brasileiro. Essa cena se deu na semana passada nas praias baianas de Ribeira, Itapuã, Boa Viagem e do Buracão e chamou a atenção de biólogos preocupados com o risco a que esses animais se expõem quando se desviam da rota e do grupo, longe de seu habitat. Eles estavam instintivamente em busca de sua alimentação natural, mais particularmente as anchovas, que coalham o litoral do Rio Grande Sul – até esse ponto, a contar da Patagônia, são cinco mil quilômetros. Alguns se perderam e foram, corrente marítima acima, bater nas águas de Salvador.

i51935.jpgTodos os anos, entre março e abril filhotes dessa espécie deixam seus ninhos na Patagônia em busca de independência e comida. É de praxe alguns se perderem. “Eles sobem pelas correntes das Malvinas e chegam ao litoral Sul do Brasil atrás de cardumes de anchovas. O período no qual costumam aparecer por aqui é entre junho e setembro”, diz Rodolfo Pinho da Silva, veterinário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Se as águas geladas são velhas conhecidas desses animais, as do Nordeste, no entanto, são virgens. Mais: além da distância maior, há diversas intempéries a enfrentar, tanto assim que os pingüins encontrados na Bahia estavam exaustos, machucados e, bastante preocupante, sujos de petróleo. “O petróleo faz com que a temperatura do corpo caia e por isso eles procuram terra firme para se aquecer”, diz Silva. O Ibama já registrou denúncias de que pingüins estariam sendo vendidos. Além do Rio Grande do Sul, que é regra, e da Bahia, exceção, outros Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina vêm registrando o encontro de pingüins – e os acolhem em centros especializados de biologia antes de devolvê-los ao mar e à rota certa. “Estamos batendo o recorde de animais encontrados. Em 2006, só no Zoológico de Niterói foram registrados 250 pingüins. Neste ano já temos 92 animais conosco em tratamento no zoológico”, diz o veterinário Thiago Luiz Muniz, do Zoológico de Niterói.