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"Eu não posso deixar o espectador respirar, não tenho tempo a perder", diz o comediante e jornalista gaúcho Rafinha Bastos, 32 anos, sobre os shows nos quais se apresenta sozinho, munido apenas de um microfone e de um texto autoral. Esse ritmo alucinante se explica: ele arranca gargalhadas da platéia com uma tirada a cada 15 segundos, ou seja, são 240 piadas rápidas em 60 minutos de espetáculo – tempo de duração do monólogo A arte do insulto, em cartaz no Rio de Janeiro depois de disputada temporada de um ano e meio em São Paulo. O texto é inspirado em situações risíveis do cotidiano apimentadas com ironias e opiniões polêmicas (ele é contra as filas preferenciais em bancos e diz que o homem está para o casamento como a mulher está para a baliza).

O sucesso de Rafinha Bastos nos palcos lhe rendeu fama também na internet, onde contabiliza mais de 13 milhões de visitas aos 32 vídeos postados em seu perfil no YouTube. Deu-lhe ainda um espaço na televisão – ele é um dos apresentadores do CQC (Custe o que custar), programa jornalístico da Rede Bandeirantes que se destaca pela abordagem engraçada e crítica do noticiário."Há muita procura pela comédia ágil. Uma piada do Ary Toledo pode levar sete minutos, e isso é muito tempo para a tevê", diz ele. Esse timing vem da chamada stand-up comedy, gênero que tem como maior expoente o comediante americano Jerry Seinfeld e vem fazendo cada vez mais adeptos na nova geração de humoristas brasileiros.

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Além de Rafinha, o CQC tem mais dois comediantes, o "repórter inexperiente" Danilo Gentili e o entrevistador Oscar Filho. Marcelo Tas, âncora do programa, credita essa preferência por humoristas à habilidade com as palavras proporcionada pelo exercício da stand up comedy. Oscar Filho ficou famoso depois de levar revistadas do cineasta Hector Babenco ao indagá-lo sobre como se sentiria se alguém dissesse não haver "nenhum cineasta argentino naturalizado brasileiro à altura de Fernando Meirelles." Isso porque Babenco declarara numa entrevista não existir ator brasileiro à altura do mexicano Gael García Bernal. A verdade é que, independentemente do estilo de comédia, há um humor moderno, afiado e focado na inteligência irradiado da internet e do teatro e que possui grande afinidade com a linguagem da tevê.

É o caso de Marcelo Médici, ator que ganhou projeção no humorístico Terça insana, sucesso nos palcos paulistas, e que despontou com o bordão Cada um com seus pobrema – nome do espetáculo solo que já viajou 17 cidades brasileiras em 300 apresentações, com público total de 120 mil pessoas. Atualmente em cartaz em São Paulo, está com ingressos esgotados para os próximos três meses. Resta assistir aos vídeos postados na internet, endereço virtual que fez a fama de Médici e abriu portas para trabalhos na Rede Globo (ele atuou nas novelas Belíssima e Sete pecados) e no SBT (A praça é nossa). Em um de seus quadros hilários, ele interpreta Tia Penha, uma apresentadora de programa infantil que diz tudo o que pensa. Em outro, topo do ranking do YouTube, Médici encarna o Mico-Leão Dourado gay, que conta numa entrevista como sobrevive ao risco de extinção fazendo pequenos trabalhos como modelo. O talento do ator paulista terá pela frente um grande desafio: ele está na remontagem de O mistério de Irma Vap, um dos maiores sucessos do teatro brasileiro com a atuação de Marco Nanini e Ney Latorraca. Médici se desdobrará em 16 personagens ao lado de Cássio Scapin, sob direção de Marília Pêra.

No Rio de Janeiro, o comediante Marcelo Adnet também se projetou nos palcos para depois conquistar um espaço na tevê. Ele protagoniza hoje o programa 15 minutos, da MTV, fazendo sátiras, imitações e dizendo todo tipo de coisas engraçadas num cenário que reproduz o seu próprio quarto. Suas piadas, entre elas um engraçado solo ao violão que é similar ao timbre de clássicos da bossa nova, foram forjadas no grupo de comédia ZÉ – Zenas improvisadas e algumas viraram mania nacional e hits na internet. Para Maurício Sherman, 76 anos, diretor do programa Zorra total, da Rede Globo, o humor no Brasil está muito bem servido. "Houve uma ressurreição da comédia no teatro e na televisão", diz ele, que criou pelo menos dois novos quadros com atores e atrizes de teatro que foram descobertos nos palcos do Rio de Janeiro e de Brasília. Entre eles Welder Rodrigues e Adriana Nunes (Jajá e Juju). "As mulheres ousam mais em papéis cômicos", diz Sherman. Mas ainda são minoria.

Um exemplo da nova geração é a atriz paranaense Marcela Leal. Ela é fundadora do Clube da Comédia Stand Up e apresentadora de Minuto da comédia, na TV BandNews, em que lança pílulas de humor em seis edições diárias. Marcela também é autora e protagonista do espetáculo Tirando do sério. "Abrimos caminho a tacape e hoje há uma verdadeira febre do riso", diz Marcela. Os grupos de teatro funcionam como um manancial de talentos para a tevê, e hoje ainda se beneficiam de um certo ocaso criativo na área. É o que diz Marcelo Tas: "Nos últimos anos houve uma acomodação no time titular do humor, que ocupava os principais espaços na tevê, então a renovação veio de fora, através de figuras que estavam no rádio, como é o caso do Pânico, na internet, no teatro, jornalismo e stand-up". Essa turma já mostrou, como disse Rafinha Bastos, que não há tempo a perder.

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