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Experimente chamar de criança uma menina de dez anos. Muitas delas vão torcer o nariz. Querem ser tratadas como adolescentes, mesmo que as mudanças da puberdade não tenham chegado. Parecer ter mais idade é um desejo comum da garotada. Quem pensa assim em geral sonha ser quatro anos mais velho. Desse modo, seria mais fácil sair sozinho, ter uma mesada maior e namorar. Esse ideal ronda principalmente a turma que hoje vive o final da infância e o início da adolescência. Um público que recebeu um apelido em inglês que se torna mais conhecido no mercado: o tween. “Antes, essa garotada ficava esquecida. Agora, há um holofote sobre o grupo. As empresas estão percebendo que os tweens têm preferências diferentes das de crianças e adolescentes. Estamos desenvolvendo mais projetos que estudam essa população”, diz Cecília Russo, sócia-diretora da Troiano Consultoria de Marca.

Criado a partir do termo between (“entre” em inglês), o conceito de tween é aplicado no Brasil para meninos e meninas de oito a 12 anos, uma fase popularmente conhecida como pré-adolescência. Expressão que eles detestam. “Pré-adolescente é horrível”, dispara Marina Ferri, 11 anos. Fã de gloss, sandálias de salto fino e peças com estampa de oncinha, ela é o retrato da atual geração tween, mais informada sobre moda e tecnologia do que se supõe. “Eu e minhas amigas temos MSN, Orkut, celular, iPod. Só usamos roupas de marca. Bolsa, a gente compra da Puma ou da Adidas. Louis Vuitton é desejo das mais velhas, as com 13 anos”, explica Marina.

O poder de consumo desses jovens, claro, é o que mais desperta a atenção do mercado. Na semana passada, especialistas de diversos setores se reuniram em São Paulo para debater, entre outros temas, a forte influência que os filhos exercem sobre as compras dos pais. Estima-se que o consumo do grupo movimente US$ 1,88 trilhões por ano no mundo. No Brasil, o potencial da garotada também está sendo medido. Apresentado durante a conferência – batizada de Kid & Tweens Power –, um estudo do instituto de pesquisa Millward Brown mostra que até as marcas para adultos podem sair ganhando. Entrevistas feitas em junho com tweens de São Paulo e Rio de Janeiro, das classes A e B, revelaram que 22% dizem aos pais que carro eles devem comprar.

 

 

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A opinião dos filhos também é importante na hora de os pais trocarem os celulares ou computadores. Mais da metade dos garotos ouvidos na pesquisa aponta que, nesse quesito, a palavra deles é a lei. “Os tweens nasceram em um mundo em que a internet e o celular fazem com que estejam ligados 24 horas por dia, sete dias na semana”, esclarece Aurora Yasuda, diretora da Millward Brown no Brasil. Apesar de muitas vezes ainda exibirem feições infantis, os meninos e meninas dessa faixa etária estão tão conectados que falam uma linguagem quase inacessível aos pais. “Meu filho gosta de um jogo da internet que eu não entendo direito o que é”, conta a nutricionista Marli Jimenez, mãe de Tárik, 12 anos. No caso, o game é o Habbo, uma comunidade virtual ambientada em um hotel. “Descobri o jogo conversando com meus amigos pelo MSN”, diz Tárik, que calcula passar 16 horas por dia no computador nestas férias.

Para a medicina, tween não existe. É apenas um apelo mercadológico. Mas os doutores sabem bem como é peculiar essa meninada – que é considerada criança ou adolescente de acordo com o desenvolvimento social, psicológico e físico. “Hoje, um menino de 11 anos é capaz de discutir temas com os adultos em condições de igualdade. É uma evolução que veio da globalização, da internet e da influência dos jovens mais velhos”, afirma o médico Paulo Ribeiro, da Sociedade Brasileira de Pediatria. De fato. A pequena Rafaella Faviani, sete anos, se espelha na irmã Gabriela, 17, que só veste peças de marca. A menina conhece moda e às vezes pede para Gabriela fazer sua maquiagem (rímel e gloss). E tem suas paixões. “Amo salto alto”, suspira. Como muitas mulheres o fariam.