i51982.jpgPor ano, 234 milhões de intervenções cirúrgicas são realizadas no mundo – uma em cada 25 pessoas. O problema é que uma boa parte delas, algo entre 3% e 16%, resulta em complicações que poderiam ser prevenidas. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS), que lançou uma lista de normas de segurança simples, uma espécie de check-list para os médicos cumprirem antes, durante e depois da cirurgia. Uma delas é perguntar ao paciente o que ele vai operar, por que e de que lado. A medida, bastante óbvia, é uma forma de conter um problema que preocupa. Nos EUA, por exemplo, errar o lado do membro a ser operado é o equívoco mais comum nas operações – representou 13% dos problemas verificados em 5.208 intervenções, segundo a Joint Commission, entidade americana de certificação da qualidade dos serviços de saúde.

A ação da OMS aproveita muito da experiência de uma campanha do Colégio Americano de Cirurgiões para reduzir erros, iniciada há 15 anos. No final do ano passado, a entidade divulgou um levantamento mostrando uma redução de 30% nos índices de complicações, com práticas como a contagem das compressas e pinças antes e depois da cirurgia para conferir se alguma ficou dentro do paciente. Outra sugestão do Colégio é que os membros da equipe médica façam uma pergunta simples antes de começar a operação: “Estão todos de acordo que esta é a dona Silvana, por exemplo, e que ela vai operar uma hérnia do lado direito?” “Medidas como essas evitam erros”, afirma o médico Ricardo Lima, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.

i51984.jpgEle está à frente de uma iniciativa – inspirada no projeto americano – em implantação em cinco hospitais públicos e um universitário no Rio de Janeiro. Os estabelecimentos enviarão seus dados sobre as cirurgias realizadas – sem esconder nada – para um banco de informações que vai analisar o desempenho com a intenção de identificar falhas e orientar seu ajuste. Um dos maiores problemas, na opinião de Lima, está na pré-avaliação do doente. “Se o paciente vai se operar sem a pressão arterial previamente controlada, por exemplo, pode ter uma crise e ficar cinco dias no hospital para se recuperar, em vez de dois”, diz.

Um aspecto novo, pelo menos para os brasileiros, do pacote de sugestões da OMS é o incentivo à participação do paciente no controle da segurança da sua cirurgia. A gerente de qualidade do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Cláudia Garcia, apóia esse engajamento. “O paciente não pode ficar passivo. Quando fiz uma cirurgia, esperei o médico no quarto para fazer junto com ele a marcação do local a ser operado”, conta. No Einstein, a prática de marcação do lugar existe há dez anos.

A atitude de Cláudia é um hábito nos EUA. Lá, a recomendação é de que o indivíduo a ser operado se apresente aos médicos dizendo seu nome completo, a cirurgia que será feita e de que lado deve acontecer. No Brasil, entretanto, o mais comum é as pessoas já chegarem anestesiadas ao centro cirúrgico. Isso acontece principalmente no sistema público.

Outra medida que o paciente pode tomar é exigir uma identificação, com etiqueta ou pulseira contendo seu nome e um número de documento. Estudos mostram que usar apenas uma prancheta com prontuário e o número do quarto eleva as chances de erros. “Para haver uma troca de medicação ou de procedimento basta mudar o paciente de cama por qualquer motivo sem a prancheta junto”, relata Cláudia.

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