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Imagine empunhar uma espada contra os inimigos, levar o adversário a nocaute com um soco certeiro ou fazer coreografias ousadas sem sair da sala. Graças à mais nova tecnologia disponível no mundo dos jogos eletrônicos, isso é possível. Um personagem com suas características pode ser guiado por cenários emocionantes com o som sincronizado a cada gesto seu. Essa inovação está à disposição no Wii, o videogame de última geração da Nintendo. A novidade quebrou paradigmas ao fazer o usuário suar a camisa, enquanto seus principais concorrentes, Sony e Microsoft, investiam em gráficos elaborados e de tecnologia de ponta, mas incapazes de tirar o jogador do sofá. O resultado foi uma explosão de vendas que o alçou, no mês passado, a videogame mais vendido dos Estados Unidos.

Foram 10,9 milhões de unidades comercializadas desde novembro de 2006 contra 10,4 milhões do Xbox 360, da Microsoft, lançado um ano antes. Hoje, de cada dois consoles vendidos no mundo, um é Wii. E com as novidades previstas para chegar ao mercado em breve (leia quadro à pág. 84) sua presença deve crescer ainda mais. “O Wii já é um grande sucesso no Brasil, apesar do preço”, diz Esteban Clua, professor do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense e especialista na área de jogos.

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A estratégia vitoriosa da Nintendo foi investir no simples e, ao mesmo tempo, essencial. Os joy sticks cheios de botões coloridos que pela complexidade afastavam tanta gente dos games deram lugar a um controle sem fio – parecido com o de uma tevê –, que capta os movimentos e os transmite para o aparelho. Os usuários são incentivados a deixar a experiência solitária do videogame de lado e chamar a turma para interagir. Wii remete a we (nós, em inglês). “Há 20 anos, a forma de jogar continuava muito parecida, apesar da evolução tecnológica. Só agora esse paradigma foi quebrado”, defende Clua.

Para conquistar um novo público, o preço caiu. Nos EUA, o Wii custa US$ 250 (R$ 400). No Brasil, no entanto, sai a R$ 1.999. Segundo a Latamel, distribuidora oficial do produto para a América Latina, a diferença é conseqüência da alta carga tributária. Ainda assim, o perfil de consumidor de games daqui começa a mudar por causa do Wii. A pedagoga carioca Ana Regina Peixoto, 47 anos, comprou o videogame para os filhos de 17 e 14 anos, mas acabou se encantando com ele. “Jogo quase todo dia”, afirma. Sua próxima aquisição – por vontade própria dessa vez – será um Wii Fit, para entrar em forma. O jogo vem com um acessório chamado Balance Board, uma prancha de 50 cm com sensores de pressão que captam movimentos, inclinações e dão informações ao usuário, como seu índice de massa corporal. Ele permite fazer exercícios aeróbicos, ioga e até snowboard. “Com o Wii, os garotos não ficam mais trancados no quarto. Até meu sogro de 81 anos acompanha a brincadeira”, conta.

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Pelo potencial de espantar o sedentarismo, o Wii começa a ganhar espaço também nas academias. No Rio, o professor Marcio Galiazzi, da Upper, incentiva os alunos a fazer os movimentos completos que simulam esportes como tênis, boxe e corrida das modalidades, evitando lesões e gastando energia. “Dá para treinar reflexo, coordenação motora e agilidade”, afirma. Mesmo quem nunca tinha ouvido falar do videogame, como o comerciante Reynaldo Girard, 44, se tornou aluno assíduo: “É uma válvula de escape para o stress”, opina. Para Leonardo Roisman, 28, que tinha um Playstation em casa quando mais novo, a aula é um achado. “Meu irmão está planejando comprar o aparelho”, comemora.

i51927.jpgO pulo do gato está na união de três tecnologias já existentes num mesmo controle sem fio. Nele, estão um acelerômetro, dispositivo capaz de medir a aceleração dos movimentos; uma câmera infravermelha, que permite definir onde está o controle no espaço; e a tecnologia bluetooth para enviar os dados para o console. A simplicidade dos jogos vem conquistando um público mais jovem que os adolescentes, tradicionais usuários de jogos eletrônicos. Pequenos como a mineira Luiza Galdino, 11 anos, de Belo Horizonte. Ela nunca ligou para os videogames do irmão Guilherme, 16 anos, mas hoje divide o Wii com ele. “Meu preferido é o Mario Bros”, conta ela.

Os elogios são muitos, mas também há críticas. A principal reclamação é a estratégia que obriga o usuário a comprar complementos para se manter atualizado. “Isso nos obriga a gastar mais”, diz Milena Wiek, autora do blog Menina que joga e fã de Wii. A qualidade gráfica também deixa a desejar se comparada à de seus concorrentes. Mas, além de elevar o nível de entretenimento de seus usuários, o Wii representa um passo adiante na realidade virtual. Estamos vivendo cada vez mais conectados a ambientes imaginários. Há quem reclame da alienação que esse fenômeno pode causar. Mas pelo menos no caso do Wii a tecnologia é usada apenas para gerar diversão – e da boa.

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