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EXPLORAÇÃO
Cientistas escavam depósitos de âmbar em Gujarat (Índia),
onde estavam os insetos com 50 milhões de anos

 

O achado de insetos com 50 milhões de anos em ótimo estado de conservação está reescrevendo a história da geologia e da biodiversidade da Índia. Os animais são muito mais parecidos com aqueles que se espalham atualmente pelo resto da Ásia do que supunham os cientistas, o que indica que o choque do território com a Eurásia aconteceu mais cedo do que se acreditava. Antes de fazer parte do continente asiático, a Índia era uma ilha. Por 100 milhões de anos ela se moveu, até se chocar com o continente vizinho, formando a cadeia de montanhas do Himalaia. Outra hipótese é de que, antes de se chocarar, os dois territórios fossem ligados por ilhas.

Os animais encontrados estavam conservados em âmbar, a resina fossilizada de árvores. A descoberta lembra o filme “Jurassic Park”, de 1993. Na ficção do diretor Steven Spielberg, mosquitos que picavam os dinossauros foram encontrados nas mesmas condições – o que permitiu a fantasiosa recriação dos lagartos jurássicos. “Onde quer que haja ilhas ou continentes que estiveram isolados por longos períodos, existe endemismo (ocorrência de espécies exclusivas daquele local)”, disse à ISTOÉ Jes Rust, paleontólogo da Universidade de Bonn (Alemanha) e chefe do estudo. “A Austrália, que não teve contato com outras partes do planeta nos últimos 30 milhões de anos, é o exemplo mais conhecido”, explica. Outros casos incluem a ilha de Madagascar, na África, e a América do Sul. Segundo o pesquisador, o novo estudo leva a crer que apenas três milhões de anos sejam suficientes para que espécies de diferentes origens se misturem.

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Para chegar a essas conclusões, Rust e outros pesquisadores extraíram cerca de 150 quilos de âmbar de depósitos na Índia ocidental. Eles identificaram elementos químicos que sugerem que a resina foi produzida por uma família de árvores tropicais distribuídas por grande parte do globo. Para alcançar os animais, dissolveram o material, do qual extraíram 700 indivíduos inteiramente preservados de insetos, aracnídeos e crustáceos ancestrais, de pelo menos 55 famílias. Havia ainda restos de plantas e fungos.

Além da Ásia, os animais têm ainda conexões com espécies hoje encontradas na Austrália e com outros espécimes ancestrais achados em pontos distantes da América Central. “Foi uma grande surpresa. Esperávamos encontrar espécies totalmente distintas, já que elas evoluíram isoladamente por muito tempo”, diz o paleontólogo. O parentesco dos insetos indianos com seres que vivem em territórios tão longínquos criou um novo conceito para o termo “parente distante”.