Assista ao trailer:

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TECNOLOGIA
Virilus (Dominic West) enfrenta os pictus:
violência e cenas de luta produzidas com software

 

Uma frase dita no filme “O Homem que Matou o Facínora”, de John Ford, tornou-se uma espécie de parâmetro para as produções baseadas em histórias reais: “Quando a lenda é maior que o fato, publique-se a lenda.” É exatamente isso o que fez o diretor inglês Neil Marshall no filme “Centurião”, que estreia na sexta-feira 5. Baseado na campanha da Nona Legião do Império Romano, que teria desaparecido sem deixar traços ao tentar conquistar os povos do norte da Grã-Bretanha no século II, o épico desconsidera as hipóteses recentes de pesquisadores de todo o mundo sobre a falta de documentação histórica a respeito dessa divisão militar. Opta pela lenda. A escolha revela-se interessante porque, mesmo imprecisa, mostra o tema sempre atual da retumbante derrota de um exército poderoso diante de um povo belicamente menos aparelhado e detalha impiedosamente a carnificina das guerras.

Famoso por filmes de horror, Marshall surpreende em sua primeira aventura histórica que se integra à onda de filmes de temática romana iniciados com “Gladiador” na década passada. Com um orçamento médio (US$ 16 milhões), ele consegue aliar cenas de impacto e o drama humano em situações nas quais está em jogo a sobrevivência. A trama começa com a fuga de um homem numa paisagem gelada, nas montanhas da Caledônia (atual Escócia). O ano é o de 117. “Meu nome é Quintus Dias. Sou um soldado de Roma e esse não é o início nem o fim de minha história”, diz o personagem interpretado pelo ator inglês Michael Fassbender. Filho de um gladiador, o personagem tem a fibra dos guerreiros, mas não momentos de glória: seus companheiros estão sendo dizimados pela tribo nativa dos pictus, que leva a vantagem de conhecer a sua terra – e, por isso, ser bem-sucedida nas emboscadas. Isso acontece quando a já reduzida Nona Legião, comandada pelo general Virilus (Dominic West), faz a famosa “formação tartaruga” (todos os soldados juntam os escudos na tentativa de barrar o arremesso de lanças inimigas), mas é surpreendida com um ataque de pedras em chamas. O suspense da cena lembra a passagem da floresta andante de William Shakespeare em “Macbeth”. Virilus é preso pela tribo celta, na qual se destaca uma guerreira muda com cruel habilidade para decapitar homens, interpretada pela bond girl Olga Kurylenko. Como bom romano, Quintus reúne os poucos braços que restaram e tenta resgatar o general. Dos três mil soldados, agora são apenas seis, entre eles um ex-escravo africano, um cozinheiro grego e um jovem natural da Toscana que sonha em voltar para casa e viver no pedaço de terra que ganharia.

Tivesse sido estrelado por um Russell Crowe ou um Sam Worthington, “Centurião” certamente seria um hit mundial – sua bilheteria não foi tão boa quanto se esperava. Mas com certeza não teria as qualidades que Marshall conseguiu reunir com sua relativa independência. As cenas nas montanhas, por exemplo, foram rodadas a uma temperatura de 18 graus negativos: os atores eram deslocados em veículos apropriados, vestiam agasalhos sobre a roupa de romanos, proteção que só tiravam na hora das filmagens. A ordem de Marshall para o fotógrafo era: “Quero que tudo pareça frio.” Na hora da edição, ele usou um software que faz as cenas de luta se desenrolarem em saltos, o que confere um grafismo aos supostos jatos de sangue saídos dos corpos. Trata-se de uma fiel representação da carnificina como nós a imaginamos nas guerras da antiguidade.

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