Dono de uma obra caudalosa, o escritor americano Rex Stout (1886-1975) contabilizava 72 novelas protagonizadas pela sua, literalmente, maior criação – o rotundo detetive particular Nero Wolfe, mistura de gourmet, orquidófilo, sabujo e comediante. Ao lado de Archie Goodwin, faz-tudo sagaz e respeitoso, Wolfe forma uma dupla que – a exemplo de Sherlock Holmes e dr. Watson – criou vida própria, correspondendo-se com fãs no mundo todo como se realmente existisse. Diante de tanta familiaridade, salta aos olhos a abertura de A caixa vermelha (Companhia das Letras, 320 págs., R$ 34,50). Chantageado por um abaixo-assinado dos maiores orquidófilos americanos, Wolfe sai de sua casa-escritório, fato raro, para visitar a cena de um crime.

Na verdade, trata-se de um envenenamento aparentemente acidental envolvendo novos-ricos, classe cujos arrulhos insípidos são a segunda coisa que o detetive mais odeia – a primeira é deixar suas orquídeas. O texto de final inusitado traz Goodwin preenchendo todos os espaços na ânsia de atender os insights de seu voraz empregador. Que, por sua vez, faz o que pode para se vingar do passeio involuntário, transformando seus contratantes em vítimas de sua fúria.