De tão absurda, a realidade brasileira precisa às vezes ser atenuada para ganhar status de matéria-prima artística. Graças aos descalabros do dia-a-dia, o diretor Claudio Torres não precisou recorrer a alegorias para fazer de Redentor (Brasil, 2004), em cartaz nacional na sexta-feira 10, uma parábola sobre a vaidade, a cobiça e a inveja. E ainda por cima, nos moldes de Cecil B. de Mille, o diretor de Os dez mandamentos, que tanto admirava na infância. O enredo começa banal. Célio (Pedro Cardoso) e Otávio (Miguel Fallabela) são amigos de infância. O primeiro, pobretão, convenceu o pai, Justo (Fernando Torres), a investir todas as economias na compra, ainda na planta, de um dos apartamentos a ser construídos pelo dr. Sabóia (José Wilker), milionário corrupto, pai do segundo. Com a falência e o suicídio deste, o projeto é abandonado e o prédio, ainda inacabado, invadido pelos moradores da favela próxima. Agora um jornalista famoso, Célio é mais uma vez enganado por Otávio, que pretende limpar o nome do pai e ganhar mais dinheiro. Enlouquece e em sua insânia passa a acreditar que Deus, pessoalmente, ou melhor, através da estátua do Cristo Redentor, lhe encarregou de fazer justiça. Muito bem realizado, com efeitos digitais convincentes, Redentor reúne pela primeira vez a família Torres num filme. É um motivo a mais para ir aos cinemas.