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Numa repetição, já quase sistemática, de um modus operandi que vai cristalizando a nova era policialesca do País, empresários e políticos voltaram a ser alvo de acusações e prisões ruidosas. Penas de mais de 90 anos para crimes econômicos, sentenças baseadas em gravações secretas, interpretações precipitadas de diálogos, juízes e delegados com atuação quase política, execração pública de notórios personagens antes da completa apuração dos fatos. É um coquetel inusitado, que você já viu por aqui, a moldar a Justiça brasileira dos tempos modernos. O debate sobre eventuais exageros ganha as ruas. Os poderes, Legislativo e Judiciário, entram em confronto. Quem julga e quem é julgado? Partidos políticos exibem provas de doações legais para contestar acusações e partem para o ataque. Suspeitam da polícia. Das intenções, dos métodos, de possíveis barbeiragens. Autoridades em desvio de conduta – uma, duas, um grupo – não é novidade. Mas impressiona o grau de contaminação dessa praga por todos os setores.

Para ratifi car uma imagem de força e competência que almeja incutir na população, a polícia sai atrás de símbolos. Quanto mais poderosos, melhor. Tenta apagar a velha pecha de só perseguir setores mais humildes da sociedade. Os senhores dessas operações, muitas das quais não passam de pirotecnia pura, com nomes de batismo que primam pela criatividade, atentaram para o fato de que avançar sobre o topo da pirâmide dá audiência, é popular, conquista horário na tevê. Da noite para o dia transformam-se, eles mesmos, em celebridades com caçadas espetaculosas.Vale a ressalva: o objetivo de buscar e prender culpados, sejam eles quem forem ou onde estiverem, é nobre.

O problema são os meios para executar a missão. Peças frágeis de investigação, quebra de regras básicas, como o respeito aos limites da atuação, acabam invariavelmente atrapalhando ou até anulando o objetivo fi nal e convertendo acusados em vítimas perante a opinião pública.

Em ao menos um dos casos, o da empresária da Daslu, Eliana Tranchesi, há sinais de que a nova investida passou do tom. A OAB considerou arbitrária a prisão da executiva, que foi condenada em primeira instância e não apresentava ameaça à investigação. As autoridades precisam ter sempre em mente que entre o combate à impunidade e a banalização da prisão vai uma longa distância.