O Brasil sustentável saiu da agenda dos candidatos tão logo a ex-presidenciável Marina Silva comunicou a sua neutralidade na disputa pelo segundo turno. Na primeira hora, Dilma e Serra, como neoecológicos simpatizantes ocasionais da causa verde, correram afoitos a tentar seduzir Marina. O cortejo deu em nada. Marina disse não ser de ninguém e lavou as mãos. Liberou seus quase 20 milhões de seguidores para que fizessem a escolha. O tema ambiental foi escanteado por falta do motivo concreto e imediato que era a conquista desse apoio. Na semana passada, Serra limitou-se a procurar Gabeira, correligionário de Marina, para usá-lo como garoto-propaganda, posando ao seu lado em busca de votos. Dilma foi um pouco mais adiante e assumiu publicamente, em encontro com ecologistas, o compromisso de reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia – talvez a primeira proposta firme para o futuro de uma região que preocupa o mundo. Independentemente da continuidade dessa tática de “esquecimento” do assunto nos dias fi nais de campanha, o fato é que a causa ambiental continua vital nos dias de hoje na formatação da política de governo que está por vir. O Brasil joga um papel de protagonista nesse tabuleiro e as decisões globais na área já estão em andamento. Soou estranho nenhum dos dois candidatos ter enviado emissários à decisiva reunião que ocorreu há poucos dias em Nagoia, Japão, na nova rodada da Convenção sobre Diversidade Biológica. Lá as nações negociaram metas para reverter a crise planetária da biodiversidade, estabelecendo políticas que devem ser seguidas até 2020. Representantes de 193 países signatários participaram.O Brasil seguiu com uma comitiva de governo, mas sem ninguém dos partidos adversários em campanha. Os comitês dos candidatos dão assim a entender que ainda se importam pouco com a situação premente de uma crise verde. Ao evitar preferência na disputa das urnas, Marina deve ter percebido que a súbita adesão de seus adversários à causa não passava de promessa eleitoreira. Teve clarividência. Mas quem sair vitorioso das urnas vai ter que rever seus conceitos.