01/08/2007 - 10:00
O pentatlo era a prova olímpica mais importante na Grécia antiga e seu vencedor virava um semideus. Na segunda-feira 23, após cinco horas de carro e duas de avião, dez moradores de Afogados da Ingazeira, no sertão pernambucano, viram sua semideusa receber, no Rio de Janeiro, o primeiro ouro no pentatlo moderno do Brasil em Jogos Pan-Americanos. Foi o auge da trajetória iniciada por Yane Marques aos 12 anos e que continuará na Olimpíada de Pequim, em 2008. “Posso ir longe, até os 40, porque a maturidade conta no pentatlo. Espero não desistir por falta de apoio, pois não dá para viver com R$ 500”, diz Yane, beneficiada pelo bolsa-atleta, somando-se ao coro dos heróis olímpicos brasileiros que só atraem atenções do País quando estão no pódio.
Poucas histórias de superação carregam tanto simbolismo como a de Yane, consagrada em uma modalidade que reúne três esportes de elite – esgrima, tiro com pistola de ar e equitação – além de natação e corrida. Filha de pai desempregado e mãe cozinheira, ela foi driblando o destino até vencer, no Pan, a canadense Monica Pinette (prata) e a americana Mickelle Kelly (bronze). Esta última se curvou à brasileira: “Tenho orgulho de dizer que fui uma das duas únicas atletas a tocá-la na prova de esgrima.”
Yane, hoje com 23 anos, se mudou aos 11 anos para o Recife com a família. Logo começou a nadar, mas só começou a praticar os outros esportes em 2003, quando foi criada uma federação de Pentatlo. Tricampeã sul-americana, ela ganhou no Pan sua primeira roupa de esgrima. Tem uma espada montada com lâmina, punho, copo, fio e ponta dados por amigos. Yane ficou em primeiro lugar na esgrima, quinto no tiro, segundo na natação e décimo no hipismo e corrida. Somou 5.484 pontos, 196 a mais do que a canadense. Para comprar a passagem e ver a filha no pódio, Maria Gorete Marques diz ter feito seis meses de horas extras na cozinha. “Valeu a pena, é um sonho.” De olho em Pequim, Yane já retomou os treinos na Academia Militar das Agulhas Negras, no município fluminense de Resende, e dona Maria Gorete voltou a fazer hora extra para atravessar o mundo.
