É conhecida a receita divulgada
em O homem que matou o facínora (1962), de John Ford, que aconselha a imprimir a lenda quando esta for mais interessante que a realidade. Caía como uma luva para a produção hollywoodiana da época, pouco mais que delírios estéticos. De lá para cá, o cinema tomou outro rumo, garimpando verdades sobre tudo e sobre todos. Mas ao juntar peças que não se encaixam, transforma de vez em quando o passado em reality show, caso de Rei Arthur (King Arthur, Estados Unidos/ Irlanda, 2004), em cartaz nacional a partir da sexta-feira 17.

Ao prometer a “verdade” por trás dos Cavaleiros da Távola Redonda, o diretor americano Antoine Fuqua não oferece mais que uma adaptação da lenda do século XV a um episódio histórico ocorrido mil anos antes. Na nova versão, Merlin (Stephen Dillane) não é mago, Galahad (Hugh Dancy) nunca ouviu falar do Santo Graal, e Arthur (Clive Owen), Lancelot (Ioan Gruffudd) e Guinevere (Keira Knightley) não formam um triângulo amoroso. De nada adianta farejar uma referência à intervenção americana no Iraque no fato de Arthur, sob o nome de Artorius Castus, representar o Império Romano na região. Em dias de Michael Moore não há espaço para metáforas. Mesmo assim, Fuqua realizou um trabalho competente e crível graças a cenas espetaculares e ao elenco eminentemente britânico.


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