Christo (Caio Blat), Gabriel (Cainam Baladez) e Francisco (Rodrigo Bolzan) são jovens paulistanos “ricos demais para serem pobres e pobres demais para serem ricos”, conforme um deles se define no início de Cama de gato (Brasil, 2000), em cartaz nacional na sexta-feira 17. Bastam algumas cenas para situar a turma de amigos, viciada em internet, mas incapaz de diferenciar o índio Galdino do cacique Paiakan. A caminho da balada, eles jogam o carro de propósito numa poça d’água para molhar usuários de ônibus, humilham um porteiro de prédio e “zoam” com alguns travestis. Mas o pior está para acontecer. Por pura diversão, estupram uma garota numa cena pesada, como se a confortável situação de garotos mimados os abstivessem de qualquer responsabilidade. Acabam armando para si próprios uma verdadeira cama de gato.

Realizado em vídeo digital e em 16 mm ao custo mínimo de R$ 100 mil, o filme – premiado em vários festivais – quer ser o equivalente nacional do Dogma dinamarquês, que pregava uma estética suja. Tanto é assim que Stockler se diz criador do Trauma, Tentativa de Realizar Algo Urgente e Minimamente Audacioso. A história, alinhavada com fortes doses de humor negro, tem seu interesse. Mas a fraca direção de atores prejudica sua credibilidade. Além disso, o recurso de sempre colocar os personagens falando para a câmara, entre outros artifícios, acaba enfraquecendo a crítica da banalidade que o diretor almeja.