É o que todo mundo quer saber nesta reta fi nal da campanha presidencial. A expectativa de que o segundo turno das eleições se convertesse numa oportunidade única de entender como serão os eventuais governos dos dois postulantes ao cargo foi pouco a pouco caindo por terra. Na medida em que os temas levantados – tanto nos horários eleitorais dos candidatos como nas declarações públicas e no confronto na tevê – partiram para a linha do bateu-levou, descendo ao fundo do poço da baixaria em questões oportunistas como fé e aborto, ficou claro que o caminho era o da pobreza do debate programático. A tática escolhida pelos contendedores impõe ao eleitor grandes prejuízos. É ele quem, em última instância, ficará desprovido de informações vitais na hora de optar por esse ou aquele presidenciável a merecer o seu voto. Como avaliar adequadamente as plataformas de gestão e a qualidade das propostas contidas nas duas alternativas de governo em disputa? Que rumos estão reservados para os próximos quatro anos de um país que, nos últimos tempos, entrou finalmente no trilho do desenvolvimento e vem oferecendo taxas recorde de crescimento econômico, de abertura de postos de trabalho e de melhoria geral da vida de milhões de brasileiros? Que garantias estão sendo dadas de que essa trajetória de avanços seguirá em frente com um ou outro dos aspirantes ao posto? A resposta está distorcida pela onda de boatos e promessas populistas. Falsas acusações, envolvendo os dois adversários, tomaram a internet. Uma hipocrisia dogmática sobre assuntos que logo após as eleições sairão certamente de pauta, como normalmente acontece, virou base de campanha dos marqueteiros.Onde estão as saídas para medidas essenciais como a revisão dos juros, reforma tributária, política cambial e a inserção do Brasil no clube das potências do comércio global? Ninguém sabe, ninguém viu. A grande discussão que restou aos candidatos é sobre o problema do aborto, que, para além das calorosas opiniões, se impõe antes de tudo como uma realidade dramática a afl igir inúmeras famílias no País. Neste pormenor, os dois adversários fi caram reféns de uma espécie de chantagem em que a crença deve sublimar os fatos. Privatizar ou não é outro falso dilema, equivocadamente lançado na contenda. O Brasil já andou nessa direção, com privatizações tão oportunas como necessárias – sem as quais o cidadão poderia estar vivendo ainda no tempo das cavernas, caso por exemplo da telefonia. Lamentável é um embate no qual o que mais importa dá lugar a proselitismos.