Aos 21 anos, o goiano Jackson de Souza tinha um desejo atroz de exibir um corpo  forte. Para atingir o sonho, ele, um sujeito magro, precisaria suar muito em aparelhos de ginástica. Mas Jackson preferiu buscar um atalho. Tomou uma dose elevada de Estigor, um anabolizante usado para fortificar vacas. Num bovino de 300 quilos, costuma-se aplicar 10 ml do remédio diluído. O rapaz recebeu 60 ml de Estigor puro. Na sexta-feira 3, ele e mais cinco amigos, que seguiram o mesmo caminho, foram internados com sintomas de intoxicação. Jackson ficou menos de 24 horas em coma e morreu no dia seguinte, no Hospital de Base, em Brasília. Até a noite de quinta-feira 9, seus colegas continuavam internados, um deles em estado grave. Os jovens podem ter como sequelas um comprometimento hepático e a infertilidade.

O caso chama a atenção para o uso das bombas, apelido dos produtos usados para aumentar a massa muscular. Especialistas em medicina esportiva sustentam que muitos fisiculturistas recorrem a anabolizantes, classe de substâncias que reproduz os efeitos da testosterona, hormônio associado às características masculinas. E o detalhe terrível é que a maioria deles é ilícito para uso humano. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem uma lista dos anabolizantes legais, porém de uso controlado. Eles só podem ser vendidos sob prescrição médica para tratamento da osteoporose (doença que provoca perda óssea). A própria entidade admite, no entanto, que é impossível controlar o comércio dessas substâncias, que, misturadas a vitaminas, correm soltas no mercado negro que explora a vaidade de homens e mulheres.

Esteróides anabolizantes androgênicos (EAAs) ou simplesmente anabolizantes são vetados porque elevam o risco de infarto. O fígado também sofre. “A longo prazo, os efeitos são os mesmos que sofreria um alcoólico, como cirrose ou intoxicação hepática”, explica o fisiologista Turíbio de Barros, da Universidade Federal de São Paulo. Além disso, o usuário pode ter diminuição dos testículos, do pênis e da produção de esperma. Apesar de proibidos, esses produtos podem ser comprados até pela internet. Quase sempre disfarçados em cápsulas ou ampolas de vitaminas.

Jackson e seus amigos adquiriram as injeções de Estigor – que foram importadas da Argentina, pois são proibidas no Brasil inclusive para uso
veterinário – de um vendedor desconhecido até quinta-feira 9. Pagaram R$ 1 o miligrama. Outro problema é que o comércio ilegal é alimentado
também por gente que deveria orientar os malhadores. Um estudo da  Universidade Católica de Brasília com 183 alunos de academias de Goiânia
revelou que 9% faziam uso de algum tipo de EAA. Boa parte declarou que os produtos foram indicados pelos instrutores desses centros.

O consumo contínuo de anabolizantes não causa dependência química. Mas, segundo Barros, pode provocar dependência psicológica. “Se o usuário deixar de usar pode ter depressão porque já não consegue se ver sem os músculos”, diz. Psicologicamente, há também o risco de o “sarado” apresentar comportamento agressivo. Era na busca deste efeito, aliás, que estavam os soldados alemães na Segunda Guerra Mundial. Foram eles que fizeram o primeiro uso de anabolizantes com finalidade não-medicinal. Eles queriam ficar mais fortes e entrar nas batalhas com mais ferocidade.