Um dos grandes desafios da medicina é lidar com o alarmante aumento dos casos de diabete no mundo. Na semana passada, a Associação Européia para o Estudo da Diabete, durante congresso em Munique (Alemanha), anunciou que há atualmente 200 milhões de diabéticos no globo. Em três décadas, estima-se que eles serão 366 milhões. No Brasil, calcula-se que 7% da população conviva com a doença, a metade sem saber disso. Mas não é apenas a dimensão do problema que preocupa. Os especialistas estão de olho também nas consequências da enfermidade, caracterizada pela incapacidade de o organismo aproveitar a glicose (açúcar) dos alimentos e a existente no próprio corpo. Diagnosticada tardiamente e sem controle adequado – como costuma ocorrer –, a diabete multiplica os riscos de infarto e de outros males cardiovasculares, como o derrame.

A boa notícia é que novas pesquisas indicam caminhos para reduzir a mortalidade por ataques cardíacos em diabéticos. Uma delas comprovou que manter a glicose em níveis normais durante e após o atendimento de emergência de infartados que têm a diabete do tipo 2 (a adquirida devido ao estilo de vida) pode aumentar as chances de sobrevivência. Feito com 1.253 pacientes, o trabalho avaliou o desempenho de três estratégias para diminuir o nível de açúcar. Um grupo recebeu doses de insulina – que normaliza as taxas de glicose – no pronto-socorro e, em casa, continuou a administrar a substância. Outro foi medicado com insulina apenas no hospital e, depois, prosseguiu o tratamento com antidiabéticos orais. O terceiro grupo só tomou insulina em último caso (quando o nível de açúcar não baixava com remédios) e usou comprimidos.

As três estratégias reduziram as taxas de glicemia (açúcar no sangue) e diminuíram o risco de mortalidade por novos ataques. “O estudo mostrou que o controle da glicemia é importante para melhorar as chances de sobrevivência ao infarto”, diz o pesquisador Klas Malmberg, do Karolinska Institute, da Suécia. Esse controle precisa ser rigoroso durante as primeiras horas após o evento. “A mortalidade no infarto aumenta 20% para cada cinco miligramas de glicose a mais no sangue em relação aos níveis normais”, afirma o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, de São Paulo. Por ora, não se tem certeza se o bom resultado das estratégias se deve apenas ao controle da taxa de açúcar. O que se sabe é que a glicemia alta está associada a uma série de eventos bioquímicos que tornam as artérias mais suscetíveis a inflamações, que podem resultar no ataque cardíaco. Mesmo sem essa resposta, vale ressaltar: cuidar da diabete protege, de fato, o coração.


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