Um cheque de US$ 3 milhões do empresário Antônio Ermírio de Moraes, o homem mais rico do Brasil, entregue pessoalmente a PC Farias. Uma confidência na piscina sobre o valor exato da sobra da milionária campanha presidencial de Fernando Collor. Um golpe certeiro do soldado, que jogou o presidente Itamar Franco ao chão numa noite mal iluminada do Palácio do Jaburu.

Testemunha privilegiada de alguns desses episódios, o alagoano Cleto Falcão, 51 anos, o deputado federal mais poderoso da era Collor, resolveu contar uma parte do que sabe. Na terça-feira 14, o ex-líder do PRN na Câmara dos Deputados no efêmero governo collorido lança seu livro Dez anos de silêncio (LGE Editora, 350 págs., R$ 40), no qual ele conta ao jornalista Fernando Barros encontros e desencontros com 64 personagens do Brasil e do Exterior – a parte mais relevante habitando a política recente do país. Autor do brinde natalino de Pequim, em 1987, que lançou Collor candidato, Cleto desmente Antônio Ermírio, que negava ter conhecido PC Farias. Na véspera do primeiro turno de 1989, Collor e PC, depois de despistar durante 40 minutos a moto com o fotógrafo da Folha de S.Paulo, teriam encontrado o dono do Grupo Votorantim na casa do ex-rei da soja Olacyr de Moraes, nos Jardins, em São Paulo. “Governador, aceite isso como ajuda”, disse Ermírio, pedindo o cheque no bolso do paletó do irmão, José Ermírio, segundo relato de Cleto Falcão. O empresário teria, então, se voltado para Collor, com o cheque de US$ 3 milhões nas mãos: “Entrego a quem, governador?” O candidato apontou seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias. “Como eu estava entre ele e o tesoureiro da campanha, o cheque passou rapidamente pelas minhas mãos”, conta Cleto.

Na casa da praia de Guaxuma, em Maceió, onde morreria anos depois, PC recebeu Cleto na piscina. Embalado pelo uísque e pela vitória do segundo turno, ele disparou a pergunta que o País se fazia: “PC, nunca vi tanto dinheiro na minha vida…Quanto vocês arrecadaram no total?” Com a careca brilhando ao sol, o tesoureiro teria dito: “Uns US$ 132 milhões. Devem sobrar uns US$ 52 milhões…”

Depois de lembrar o lado mulherengo de Itamar Franco, Cleto conta que Collor, irritado com as seguidas ameaças de renúncia de seu vice, consultou o TSE, no intervalo entre o primeiro e o segundo turno, para se livrar do candidato. Foi informado de que só a renúncia, unilateral, resolveria o problema. Collor não conseguiu repetir a proeza de um soldado da guarda do Jaburu, o palácio onde Itamar vivia já como presidente. Distraído com um celular, à noite, não ouviu os três pedidos de identificação que o praça lhe fez – e foi derrubado pelo soldado, com o fuzil apontado para a cabeça. Cleto diz que Collor quase antecipou a senadora Heloísa Helena em 13 anos. Em 1991, irritado com o seu indigente PRN, pediu ao diplomata José Guilherme Merquior o esboço de um novo partido. Inspirado no socialista espanhol Felipe Gonzalez, eles prepararam o lançamento da nova sigla, que teria o sol como logomarca e o nome de Partido da Social Liberdade – o PSOL, o mesmo da senadora alagoana.