Ninguém merece. Muito menos a nova musa nacional, Daniella Cicarelli. Em seu début nas passarelas internacionais, na badalada Semana de Moda de Barcelona – espécie de Fashion Week espanhol –, La Cicarelli, noiva oficial e, a partir de 2 de janeiro de 2005, esposa do Fenômeno Ronaldo Nazário, artilheiro da Seleção Brasileira, suportou, impassível, uma enorme confusão que se acirrou nos bastidores do evento e fez, por sua causa, o sangue latino, de espanhóis e brasileiros, ferver. As 19 horas que Cicarelli passou em Barcelona são para ser apagadas da memória. A seu redor, os ânimos se exaltaram e o volume do bate-boca chegou às alturas. Alheia à grosseria, La Cicarelli arrasou no desfile para a grife brasileira Patachou, da estilista mineira Terezinha Santos, flanando na passarela com a habitual desenvoltura. Mas sua carreira internacional ganhou, inesperadamente, oponentes pesados na Espanha. Alçada à condição de celebridade mundial, depois de oficializar no domingo 5 seu noivado com Ronaldo, e anunciar o casamento, Daniella – os dois elles são por causa da numerologia – desperta curiosidade por onde passa e sua presença garante o sucesso de qualquer evento ou grife. Em Barcelona, os organizadores alegavam que ela deveria dar uma entrevista coletiva à imprensa na quarta-feira 8, à meia-noite, no elegante hotel Magestic. Desde segunda-feira 6, a tal coletiva era esperada com ansiedade. Caico de Queiroz, o empresário de Daniella, avisou que a entrevista, por não estar no contrato, não aconteceria e ela apenas posaria para as fotos. E deixou claro: quem mandava era ele. O recado enfático revoltou o senhor Paco Flaqué, dono da empresa Flaqué Internacional e um dos principais organizadores do evento.

Enquanto Daniella era maquiada, Flaqué entrou no camarim pisando duro e, com o dedo em riste, fulminou nervoso em direção à estilista Terezinha Santos: “Você sabe quem eu sou? Eu sou o dono disso aqui. Eu mando no evento e pago as modelos. Se ela não fizer o que eu estou mandando, ela não recebe.” A modelo tentou consolar a amiga e estilista. “Tê (Terezinha), não se preocupe que eu estou aqui pela nossa amizade.” Caico ainda discutiu com veemência com assessores de imprensa do evento. “Se vocês continuarem insistindo ela não vai nem desfilar. Eu pego minha modelo e vou embora.” Resultado: combinou-se que ela faria apenas duas fotos. Uma pose durante o desfile e outra numa sessão posterior no hotel, que só aconteceu por volta da 1h30 de quinta-feira 9, depois de um desgaste coletivo que se tentou camuflar. A sessão durou três minutos, e ela apareceu com os olhos vermelhos.

A explicação para tamanho imbróglio passa por um acerto que não teria sido cumprido com a revista de celebridades espanhola Hola. A revista pagaria um cachê de US$ 100 mil à modelo em troca de uma entrevista exclusiva. Como Daniella falou demais e antes, eles teriam suspendido o pagamento. Metade deste valor acabou pago pela organização do evento, e Daniella se sentiu desobrigada a dar entrevistas. Caico desmente toda a história. Seja como for, a não-entrevista gerou protestos intermitentes. Flaqué, este sim, disposto a falar, desdenhou a modelo. “Eu comentei com uma pessoa que me ajuda no Brasil que queria ou a Gisele Bündchen ou a noiva de Ronaldo. Me arrumaram a noiva de Ronaldo.” Sérgio Obregon, empresário mexicano radicado na Espanha há 12 anos, que distribui roupas das grifes das estilistas Glória Coelho e Terezinha Santos, colocou mais lenha na fogueira. “Daniella é uma pessoa sem uma carreira consistente, que só está em evidência porque se agarrou na fama dos outros. Se depender de mim, não pisa mais na Pasarela Gaudi (nome do evento de que participou). Não com esse empresário sem palavra.” Foi sobre Caico que recaíram as maiores ofensas. “Eu posso não só deixar de pagá-la como posso processá-los. O empresário dela é burro, um ignorante.”