Em 2006, funcionou. Em 2010, não funciona mais. Simples assim. Quatros anos atrás, a estratégia usada pelo PT para vencer o segundo turno foi espalhar boatos de que o candidato Geraldo Alckmin poderia privatizar empresas como a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Um discurso tosco e que só prosperou porque o tucano decidiu se render à lógica do adversário. Num dos piores momentos da história do marketing político no Brasil, ele acatou a sugestão de aparecer com uma jaqueta estampando os logos das estatais. Soou falso e contribuiu para que Alckmin tivesse menos votos no segundo turno do que no primeiro.

Agora, os petistas falam em repetir a estratégia. Só que o PSDB, vacinado, não morderá mais a isca. José Serra defenderá as privatizações feitas nos oito anos de governo FHC por uma razão muito simples: elas deram certo. Não tivesse sido privatizada, a Embraer teria quebrado e não seria hoje uma das maiores exportadoras nacionais. Sem a privatização, a Vale também não teria adquirido ativos em diversos países, transformando-se numa multinacional global. Na telefonia, deve-se ao processo de desestatização o fato de todos terem celulares e de existir mais de uma linha por habitante no Brasil. No sistema financeiro, a venda dos bancos estaduais – uma política seguida pelo próprio PT – contribuiu para estancar um antigo ralo de desperdício e corrupção. Portanto, a privatização deveria ser uma bandeira de campanha, e não um motivo de vergonha.

Assim como o PT erra ao demonizar as privatizações, o PSDB também se equivoca ao explorar uma questão da esfera privada – a religião – de forma eleitoreira. No primeiro pronunciamento após o primeiro turno, Serra fez um discurso milimetricamente calculado. Primeiro, ele agradeceu a Deus. Em seguida, colocou-se como um homem em defesa de valores, de princípios morais e também da vida. Ou seja: um recado claro em relação ao tema do aborto, que contribuiu para a queda da candidata Dilma Rousseff entre católicos, evangélicos e mulheres. As posições de Serra e Dilma em relação à religião e ao aborto, muito provavelmente, são idênticas. Lembram do Todo-Poderoso apenas em dias santos e nas campanhas eleitorais. Em relação à interrupção da gestação, são contra, menos em casos de estupro ou que representem riscos para a sobrevivência da mãe. E o fato é que ambos deveriam estar preparados para debater questões mais relevantes. Por exemplo, a modernização da infraestrutura antes da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, que passa, necessariamente, pela concessão à iniciativa privada de estradas e aeroportos. O que qualquer um dos dois fará se vencer no dia 31.