Marina Silva, a presidenciável surpresa desta eleição, passou a alvo de cobiça dos adversários Serra e Dilma. De uma hora para outra Serra virou ambientalista aguerrido. Dilma, a colega ministerial de longa data. Marina tem princípios, projetos e propostas que deixou claros durante sua campanha. Marina quer se movimentar para um lado ou para o outro de acordo com o conteúdo programático a ser apresentado a ela. Nesse aspecto, o desenho de suas propostas se distancia principalmente do esboço imaginado por Serra. Exemplo: a de uma maior intervenção sobre o Banco Central, que “deve estar em sintonia com a Fazenda”, segundo ele prega – e que vai de encontro ao BC independente desejado por Marina. Antes do segundo turno, Marina não estava na régua de Serra. “Se eu fosse usar a minha régua, eu diria que você e a Dilma têm muito mais coisas parecidas do que qualquer outro candidato aqui”, assinalou Serra no último debate global. Em um contorcionismo tortuoso, ele agora se esforça para mostrar identidade com quem antes menosprezava. Puro casuísmo. Nesse quadro, a neutralidade aventada por Marina soa estranha e não vai funcionar na prática dada a predisposição dos verdes por uma aliança com os tucanos. Marina pode não oferecer apoio aberto a ninguém, mas nada evita que Serra, caso conquiste o aval do PV, diga em palanque e no seu programa que “o partido da Marina” o apoia. Várias das cabeças do PV são egressas da linha operacional do PSDB. Muitas delas acenaram alegre e rapidamente com a adesão.

O partido também já entabulou negociações fi siológicas de troca de ministérios (seriam quatro) pelo apoio, no velho e surrado balcão de negócios eleitoreiros – que nada tem a ver com os princípios éticos pensados por Marina. A candidata repudiou, irritada, a manobra. Mas dia a dia se aperta o cerco sobre sua escolha. A opção natural deveria levá-la de volta à origem política e de plataforma na qual foi moldada e com a qual mais se identifica. Todos dizem: Marina é – ideológica e historicamente pela trajetória – o “Lula de saias”. Poderia ter sido ela mesma a candidata do presidente, dado o fervor com o qual abraça bandeiras sociais do tipo Bolsa Família, prestes a evoluir nos planos de Dilma para “Bolsa Básica da Cidadania”. Marina, acalentando essa natural sintonia com Lula, sabe que qualquer direcionamento de voto em confronto com as pregações petistas trairia sua própria natureza. Não há no seu íntimo a dúvida. O impulso de uma decisão, a ser tomada até o dia 17, segundo pretensões partidárias, não contempla de qualquer maneira a certeza de que os quase 20 milhões de votos seguirão ao pé da letra a orientação da líder. No balaio de eleitores que se uniram para ungir Marina como a melhor opção mistura-se o voto dos inconformados – cativados pela onda oportunista de denúncias e boatos –, o dos jovens engajados atrás de um estandarte sustentável para chamar de seu e o de religiosos conservadores contaminados nas últimas semanas pelo ruído de uma falsa pregação pró-aborto. Marina está na cabeça de muitos, mas deveria seguir o instinto que a embala no berço partidário no qual se criou.