Escolher o tipo de homem ou de mulher por quem se apaixonar: louro, moreno, alto, rico, inteligente. Decidir em que tipo de emprego trabalhar, se terá muito dinheiro ou se irá morar numa casa modesta. Se esses sonhos que permeiam o imaginário humano não são fáceis de realizar na vida real, eles são totalmente viáveis no mundo dos games. Brincar de Deus ou fazer com que o jogador tenha controle quase total da vida dos personagens é a grande sacada dos novos jogos para computador e consoles de videogame.

O principal jogo dessa categoria é o recém-lançado The Sims 2. Nele, além do tipo físico e do signo dos personagens, o jogador também escolhe suas características pessoais – se será romântico, inteligente, bagunceiro ou mulherengo. Para que a pessoa se dê bem nessa vida paralela, é preciso agir com cuidado. Qualquer ação em falso e o personagem sofrerá as consequências. Exatamente como na vida real. Se a namorada pegar o amado com outra, rola o maior quebra-pau. Em compensação, se o cara souber conquistá-la, o próximo passo é uma noite de amor e
luxúria na cama ou numa banheira de hidromassagem. E depois, quem sabe, o casal pode até constituir família. “Nos EUA, esse tipo de simulador é chamado de Jogo de Deus. O jogador literalmente controla a vida de quem quiser, de acordo com sua vontade”, diz Adriana Neves, gerente de produto da Electronic Arts Brasil, a produtora do game que já vendeu mais de 36 milhões de cópias ao redor do mundo.

Numa linha parecida, mas com apelo mais sexual, está Larry, a continuação da série lançada há cinco anos pela Vivendi Universal Games. O jogo, totalmente em 3D, simula a vida de um estudante entre os dias maçantes na escola e as ardentes conquistas amorosas. Baseado em filmes adolescentes, como o sucesso de bilheteria American Pie, nesse jogo o objetivo é fazer com que o personagem leve o maior número de meninas para a cama. Ao contrário de The Sims, no qual é possível controlar vários personagens, em Larry o jogador só pode encarnar o personagem que dá nome ao game. “A interatividade é o pote de ouro do momento. O jogador quer entrar na história e ter controle sobre ela. É como ter uma identidade paralela”, diz Glauco Bueno, gerente da Atari Brasil. A empresa lança em outubro o game Locomotion, em que o jogador viverá um magnata dos transportes e, como tal, terá de construir uma rede de rodovias, ferrovias e hidrovias em mais de 40 cenários em regiões como América do Norte, Bretanha e regiões montanhosas.

Além da maior interatividade, os novos games primam pelo realismo. Seja na arquitetura de um cenário, seja nas feições de rosto dos personagens ou nas locações. E isso vale para todas as categorias: simulação, estratégia, esportes ou ação. Tudo é minimamente estudado para dar maior veracidade à história. Os jogos de guerra são os mais expressivos. O Joint Operation: Typhoon Rising, da Tech Dealer, foi baseado na ação da Organização das Nações Unidas (ONU) no Timor Leste. Os produtores foram ao local, filmaram, fotografaram, usaram imagens de satélite e reproduziram nos jogos as situações reais de localização, topografia e até mesmo conceitos de física, que explicam os efeitos de uma bomba caindo nas águas de um rio. “O próprio Exército americano usa jogos como esse como parte dos treinos”, ssegura Fernando Steler, gerente de produto da Tech Dealer. O mesmo se pode dizer de Men of Valor, novo título da Vivendi que chega ao mercado em outubro. A ação reproduz as batalhas que ocorreram na guerra do Vietnã, mantendo-se fiel à história real.

Para quem gosta de velocidade, a grande novidade é o Need for Speed Underground 2, da Electronic Arts. Além de trazer a sequência de um dos jogos de corrida mais vendidos no mundo, a nova versão conta com dispositivos que garantem a personalização dos carros. O jogador pode incrementar seu possante com tudo o que há de mais moderno, desde equipamentos para melhorar a performance do carro até luz néon e acessórios para deixar o automóvel mais transado.

Outro grande filão são os jogos online, em que vários jogadores disputam uma mesma partida pela internet. Aí, a interatividade é ainda maior. “Nesses jogos, quem faz a história são os jogadores”, diz Jeferson Valadares, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames).
Os games feitos para milhares de pessoas disputarem na internet podem até mudar o rumo dos jogos para computador. Apesar de as mulheres estarem cada vez mais dispostas a entrar nesse clube do bolinha, o mercado da diversão eletrônica ainda é muito dirigido ao público masculino. “Como a interação é maior nesses novos games, essa é uma boa oportunidade para conquistar o público feminino”, diz Souza, da Vivendi.

Uma pesquisa americana mostrou que há uma tendência das empresas em lançar cada vez menos joguinhos. A razão é o tempo e o custo de cada produção, que pode chegar facilmente à casa dos milhões de dólares. De simples brincadeira, os games hoje parecem superproduções hollywoodianas. The Sims 2, por exemplo, levou três anos para ficar pronto e envolveu mais de 300 pessoas. Filmes de sucesso no cinema como Harry Potter, Homem-Aranha, Mulher-Gato e Senhor dos Anéis também saíram das telonas diretamente para a tela dos computadores. “As cenas de luta desses filmes são todas feitas por computação gráfica. Ao adquirir os direitos de imagem desses filmes, estão incluídas as imagens gráficas usadas integralmente nos games”, explica Adriana, da Electronic Arts. Se muitas vezes não conseguimos nem controlar nossas próprias vidas, brincar com a vida alheia pode ser uma alternativa no mínimo divertida.