Humanizar a globalização e colocar a força do capital internacional a serviço da melhoria das condições de vida no planeta. Esses foram os desafios propostos por Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas, às grandes corporações quando estabeleceu o Pacto Global, em 1999. Mais de 1.500 empresas assinaram o documento, 241 delas brasileiras. Um número que faz do Brasil o país com o maior
grupo de signatários do planeta. E, em solo brasileiro, se registrou uma adesão tipicamente verde-amarela: a escola de samba Portela foi a primeira entidade cultural a engajar-se nessa iniciativa. Além de estabelecer como tema de seu samba-enredo de 2005 os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (série de indicadores socioeconômicos tidos como meta até 2015 pela ONU), se dispôs a incorporar os princípios do pacto e difundi-los. “A Portela é um pólo irradiador. Temos ao redor uma grande área carente e já estamos abrindo a quadra para projetos de arte, cultura e esportes”, afirma Nilo Figueiredo, presidente da escola que ostenta as mesmas cores da ONU, azul e branco. Normalmente, no Carnaval, a Portela leva à avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro (RJ), três mil integrantes e atrai a seus ensaios mais de cinco mil pessoas, a maioria dos bairros de Oswaldo Cruz e Madureira. Esses números fazem Marielza de Oliveira, analista de programas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e coordenadora do Pacto Global no País, comemorar outra vantagem. “A Portela atua em um setor que reúne muitos microempresários e trabalhadores informais que, com certeza, precisam dessa proteção de direitos”, pontua.

O tratado, que nasceu com nove princípios de preservação dos direitos humanos, dos direitos do trabalho e do ambiente, ganhou este ano mais um: a luta contra a corrupção. Em dezembro do ano passado, foi criado o Comitê Global Compact
(Pacto Global) Brasileiro, presidido por Oded Grajew, do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, e formado por 42 empresas e associações. Entre elas, empresas como Natura, Petrobras, Banco do Brasil, Basf e Unilever. A Petrobras,
por exemplo, tem 1.200 projetos comprometidos em gerar tecnologias
educacionais. Por isso, foi convidada pela ONU para participar de uma seleção mundial que escolherá dez empresas e dez escolas de negócios para desenvolver metodologia de formação de uma nova geração de executivos antenados com a responsabilidade social. “A idéia é que vale mais construir reputação com ações responsáveis do que imagem mercadológica”, explica Izeusse Braga, gerente
de comunicação internacional da Petrobras.

A nova onda começa a ganhar corpo. Os empresários já notam que o engajamento se reverte em lucros no mercado internacional. Mas como adequar-se ou saber
se a empresa está no caminho certo? O Instituto Ethos, em sua publicação Ferramentas de Gestão 2004, mostra como compatibilizar os princípios do Pacto Global com as Metas do Milênio e como medir a sua implantação. Algumas empresas também desenvolveram suas próprias ferramentas. Para aferir se seus salários são realmente justos, como aconselham os princípios do Pacto, o laboratório Novartis criou o Índice de Desenvolvimento Humano Empresarial (IDHE). Descobriu que o índice da empresa está acima da média do IDH brasileiro (0,769), medido pela ONU, mas também que a casa de alguns de seus funcionários não contava com saneamento básico. A empresa assumiu o problema. “A Novartis buscou uma solução com a prefeitura local ou com a construção de fossas assépticas”, conta Salvio Di Girólamo, diretor de assuntos corporativos do laboratório. A ação vem ao encontro do que afirma Marielza de Oliveira, do Pnud, quando lembra que dois terços da humanidade são excluídos das benesses da modernidade. “Somos 6,5 bilhões de pessoas no mundo, mas apenas 2,5 bilhões são ativos nas relações comerciais. Temos que estender os benefícios da globalização aos outros quatro milhões”, diz ela.