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ROMARIA
O santuário de Aparecida (SP) é o maior templo mariano do mundo

 

Além de mover montanhas, a fé também movimenta multidões de turistas pelos quatro cantos do mundo. São pessoas que escolhem seus roteiros não pelas belezas naturais ou opções de lazer, mas, principalmente, pela representatividade que alguns lugares têm para a religião. Para o público católico, a bíblia a ser seguida nesse caso é o catálogo da Ópera Romana de Peregrinação (ORP), a agência de viagens oficial do Vaticano. A instituição existe há 76 anos, mas até a última edição deixava de fora as atrações do país com maior número de seguidores da Igreja, o Brasil, com 70% da população declarada católica. Essa injustiça será reparada em breve. O Ministério do Turismo vai aproveitar o Congresso da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), que acontece no Rio de Janeiro entre 20 e 22 de outubro, para anunciar os roteiros nacionais que farão parte do próximo catálogo da ORP. Mais do que a possibilidade de conquistar os cinco milhões de turistas europeus que todos os anos viajam com a agência do Vaticano, o Brasil passa a ser reconhecido internacionalmente como destino turístico religioso.

A rota brasileira da fé passa pela cidade de Aparecida, em São Paulo, onde fica o maior santuário mariano do mundo, a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. No Rio de Janeiro, indica o Cristo Redentor. Tem ainda Olinda, em Pernambuco, e as cidades históricas de Minas Gerais e Salvador, na Bahia. No futuro, o ministério vai trabalhar pela inclusão de Juazeiro, no Ceará; Nova Trento, Santa Catarina, e a Região das Missões, no Rio Grande do Sul. “Estou muito satisfeito. O turismo religioso é um segmento forte, que ganhará um empurrão com o convênio”, disse o ministro do Turismo, Luiz Barreto, na terça-feira 5, antes de embarcar para Jerusalém, um dos principais destinos religiosos do mundo, em busca de experiência para o setor. “Vamos ganhar uma dimensão internacional muito importante.”
 

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DEVOÇÃO
Presentes no catálogo do Vaticano: cidades históricas de Minas,
como Congonhas (acima), e o Cristo Redentor, no Rio

 

Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Turismo, dos cinco mihões de turistas estrangeiros que chegam ao Brasil anualmente, apenas 0,4% (20 mil) vêm ao País por motivos religiosos. E praticamente 50% se declaram atraídos pelo nosso clima e nossas praias. “É uma ferramenta a mais para movimentar o turismo, mas não é algo que vai revolucionar”, adverte o diretor de Assuntos Internacionais da Abav, Leonel Rossi Júnior, ressaltando que, no turismo religioso, as pessoas precisam de informação e não de sofisticação. “Esse é o nosso maior grau de dificuldade. O Brasil não tem guias com olhar religioso”, afirma Claudemir de Carvalho, diretor da CNS Viagens, de Campinas (SP), que há mais de 30 anos trabalha com turismo religioso. Segundo ele, o turista quer conhecer a história dos santuários, a importância do templo, o período da construção, saber das obras de arte que compõem o acervo e, por último, a parte religiosa. Informações que os guias turísticos brasileiros não têm o costume de conhecer. “Alguns lugares não estão preparados”, admite o padre Carlos Chiquim, coordenador nacional da Pastoral do Turismo.
 

Dentro do segmento católico, existem vários tipos de viagens. Na romaria, por exemplo, o único compromisso é conhecer o destino sagrado. Na peregrinação, o turista viaja para cumprir promessas ou votos. Existem também as viagens de penitência ou reparação, realizadas com o intuito de se redimir de alguma culpa ou pecado, seja de forma espontânea, seja aconselhadas por algum líder religioso. Pelas contas do Vaticano, cerca de 200 milhões de pessoas viajam todos os anos para conhecer santuários religiosos, locais de aparição divina, de romarias e peregrinações. Somente na Europa, são 30 milhões.
 

A Ópera Romana de Peregrinação surgiu em 1934 para ajudar os fiéis que queriam conhecer os principais santuários da Itália e da Europa. Apesar da importância do catálogo, o arcebispo de Florianópolis e coordenador da Pastoral do Turismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Murilo Krieger, só soube do convênio depois de firmado. E é dele a melhor definição para o segmento: “No turismo convencional, se conhece a igreja por fora e os restaurantes por dentro. No turismo de peregrinação, se conhece a igreja por dentro e os restaurantes por fora.”

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