img1.jpg
FALSA ALEGRIA
Deborah Secco interpreta Alice no episódio intitulado
“A Suicida da Lapa”, que faria parte de um filme

 

O comportamento feminino mudou muito desde 1967, quando o cronista Sérgio Porto (1923-1968) escreveu “As Cariocas”, coletânea de textos que buscou identificar um sentimento comum às mulheres do Rio de Janeiro naquela época. Havia “a noiva do Catete”, jovem que enchia seu noivo de carinho e, pelas costas, o traía. Ou “a desinibida do Grajaú”, que levava os vizinhos à loucura com as suas curvas perigosas. Agora, mais de 40 anos depois de lançado, o livro serve de inspiração para a série “As Cariocas”, dirigida por Daniel Filho, que estreia na Rede Globo na terça-feira 19. Mas, afinal, quem é esta mulher cuja alma Sérgio Porto tentou captar? Também autor da adaptação, Daniel Filho dá uma pista: ter ou não nascido na cidade não faz diferença no contorno desse tipo multifacetado. “Ser carioca é um estado de espírito”, diz ele.

A atriz paulista Paola Oliveira, por exemplo, vive na série a atormentada da Tijuca. “Na essência, ela é igual a uma paulista ou uma mineira. A personagem, contudo, mostra-se mais despojada, tem um tempero diferente”, afirma Paola. Outras estrelas globais foram escaladas para defender algum traço de feminilidade que a atmosfera do Rio torna particular: Angélica, Adriana Esteves, Cíntia Rosa, Alessandra Negrini, Fernanda Torres, Sônia Braga, Deborah Secco, Alinne Moraes e Grazi Massafera. Serão, respectivamente, “a traída da Barra”, “a vingativa do Méier”, “a internauta da Mangueira”, “a iludida de Copacabana”, “a invejosa de Ipanema”, “a adúltera da Urca” e “a suicida da
Lapa”, além das já citadas beldades do Catete e do Grajaú – as duas únicas que, de fato, foram tiradas do livro original de Sérgio Porto. Elas têm em comum uma espécie de modernidade, que o escritor Ruy Castro atribui a um fator histórico: “Foi no Rio que as primeiras mulheres do Brasil se separaram do marido e passaram a trabalhar fora, ter um salário, dirigir e fumar em público.”

img.jpg

 

O projeto de Daniel Filho, que volta à televisão depois de quebrar recordes no cinema nacional com a comédia “Se Eu Fosse Você” e o drama espírita “Chico Xavier”, era justamente orquestrar esses perfis em um “filme coral”. “A ideia inicial era fazer um longa-metragem, mas preferi o formato de episódios com personagens diferentes”, diz ele. No total são dez histórias distribuídas geograficamente pela cidade. Essa decisão acabou sendo mais fiel ao espírito de Sérgio Porto, de quem Daniel Filho foi amigo. Autor dos mais celebrados (foi cronista, radialista, roteirista, jornalista e compositor), Sérgio Porto ficou mesmo conhecido pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. O humor e a irreveréncia são marcas de sua obra, que ainda não havia recebido a devida atenção da tevê. A estreia de “As Cariocas” repara essa injustiça.