Quando o helicóptero Bell 47 pousou na Ilha Grande, no último dia do ano de 1985, para libertar do presídio de segurança máxima o bandido José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, não acontecia apenas a mais cinematográfica ação do crime já realizada até hoje. O episódio estava embutido no nascedouro da primeira organização criminosa do País, a Falange Vermelha, hoje Comando Vermelho, o maior pesadelo dos cariocas. Escadinha cumpria pena de 50 anos e foi beneficiado pelo regime semi-aberto em 2002, por bom comportamento. Nos últimos anos, lançou um CD de rap e era sócio de uma cooperativa de táxis. Na manhã da quinta-feira 23, acabava de sair do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Bangu, quando seu Vectra prata foi interceptado na avenida Brasil por uma moto com dois homens. Escadinha, 48 anos, teve o rosto desfigurado por dois tiros de fuzil e Luciano da Silva Vanderlei, que estava no carro, morreu com um tiro no peito e outro no braço.

Para o subchefe de Polícia Civil Paulo de Tasso, a execução tem o estilo de queima de arquivo. Encina vinha sendo investigado desde 2003, quando 17 rádios de transmissão de sua cooperativa de táxi foram apreendidos em favelas e presídios com integrantes de uma facção de traficantes. Ele saía de Bangu diariamente para o shopping Carioca, em Vicente de Carvalho (zona norte), onde a cooperativa funcionava. Em 2000, gravou o CD Brazil I – fazendo justiça com a própria voz. A polícia investiga se esse novo perfil de trabalhador e compositor não passava de fachada para encobrir suas relações com o tráfico. Seu destino foi semelhante ao do parceiro José Carlos Gregório, o Gordo, também condenado a 50 anos de prisão e beneficiado pelo regime semi-aberto, depois de entrar para a Igreja Presbiteriana. Gordo – que contratou o helicóptero da fuga e ajudou Escadinha a criar a Falange Vermelha – morreu assassinado em uma favela de Niterói, em 2001