Os 135 milhões de donos do Brasil foram às urnas neste domingo 3 e deram suas ordens aos candidatos a ocuparem o posto de mais graduado servidor público do País. Eles decidiram que precisam de mais algum tempo para definir quem contratarão. Querem, para anunciar o veredicto definitivo, mais informações sobre seus candidatos. Esperam, sobretudo, ouvir de Dilma Rousseff e José Serra algo mais concreto sobre seus programas de governo, as ações efetivas que marcarão suas eventuais gestões, uma vez sentados no principal gabinete do Palácio do Planalto. Já conhecem os currículos e já foram alvejados com toda espécie de promessa eleitoreira. Eis a grande beleza do segundo turno: um contra o outro, sem terceiros a disputar as atenções. Tempos iguais, armas iguais, como nos duelos dos cavalheiros de antigamente. É oportunidade para não ser desperdiçada com baixa politicagem. É hora de se olhar apara a frente.
Esta mensagem está explícita, por exemplo, na expressiva votação obtida por Marina Silva, do PV. Com cerca de 20% dos votos válidos, ela fica fora do segundo turno mas sai das eleições vencedora. Foi além do que se imaginava propondo debate ao invés de embate e sugerindo discussões em torno de temas estratégicos para o futuro do País.

Dilma e Serra terão de disputar o espólio da candidata verde e levará maior fatia dele quem se aproximar mais do seu discurso. No debate, a petista, afetada pelo fator Marina no primeiro turno, tem mais munição – um plano de grandes obras em andamento, um conjunto de programas sociais reconhecidamente bem-sucedidos, a imagem associada a um governo que recolocou o Brasil na rota do crescimento econômico –, mas ainda precisa comprometer-se mais firmemente com reformas fundamentais como a tributária e a política. Serra, por sua vez, terá a difícil tarefa de encontrar um eixo para sua campanha, que oscilou do pós-lula ao homem das promessas populistas, passando por um período de mera artilharia à adversária. Conseguirá explicar, como Marina pediu insistentemente nos debates, de onde virão recursos para honrar a lista de aumentos que prometeu a aposentados, trabalhadores que ganham salário mínimo e até para os que recebem bolsa-família? Os avanços obtidos nos últimos anos e os números positivos da economia indicam que, independentemente de quem for eleito, o Brasil deve manter o embalo ainda por algum tempo. Para se considerar um país moderno de fato precisa vencer, no entanto, desafios gigantescos na educação, na saúde, na segurança e na infraestrutura. Um projeto que englobe tudo isso é o que os donos do Brasil querem ouvir nesse segundo turno.