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O atual diretor do FBI, a polícia federal americana, estava há apenas sete dias no posto quando um avião atingiu a Torre Norte do World Trade Center, em Nova York. Dezoito minutos depois, quando a segunda aeronave se chocou contra a Torre Sul, Robert Mueller percebeu que havia problemas graves na mais poderosa agência policial do mundo. Os Estados Unidos estavam sendo atacados e o FBI não havia detectado nenhuma ameaça com antecedência. "Ficou claro então que a prioridade número 1 do FBI deveria ser a prevenção de outro ataque terrorista", disse Mueller em recente cerimônia de comemoração pelo primeiro centenário da agência. "Mudamos o foco de nossa missão, revisamos prioridades e realinhamos nossa força de trabalho."

Pela própria natureza do serviço, Mueller não detalha as mudanças. Não quer, porém, repetir o fiasco que contribuiu para o ataque de 11 de setembro de 2001 – o FBI sabia da presença de dois dos terroristas em território americano desde o mês anterior, mas não considerou o assunto urgente. Daí, seu rol de prioridades começa agora com a proteção do país contra atentados terroristas, sejam físicos, sejam cibernéticos, e as ações de contraespionagem. A seguir, vêm as tarefas tradicionais da agência, como o combate à corrupção e ao crime organizado. Com orçamento anual de US$ 6,04 bilhões e 30.847 funcionários – 12.737 deles agentes especiais -, a instituição não pode reclamar de falta de recursos.

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Além de capilarizada nos Estados Unidos, ela está presente em 60 outros países, inclusive no Brasil, onde mantém cinco homens no "escritório de ligação" instalado na embaixada americana em Brasília. De forma indireta, no entanto, o FBI se enraizou no mundo inteiro por meio dos mais de 40 mil estrangeiros que se especializaram em sua academia, um complexo de 155 hectares em Quantico, na Virgínia.

i53412.jpgO delegado Mauro Marcelo Lima e Silva, que já dirigiu a Agência Brasileira de Informações, é um dos 30 brasileiros graduados pela academia. Em 1993, ao terminar o curso, ele implantou em São Paulo a primeira delegacia do País especializada em crimes praticados pela internet. "O FBI está sempre à frente em termos de técnicas de investigação", diz Lima e Silva. "Nos anos 1930, já fazia exames no sangue, em resíduos de pó e em roupas que podiam ligar suspeitos a cenas de crime."

Em 1908, quando foi criado, o FBI não exibia potencial para o papel que desempenhou nas décadas seguintes e consolidou 100 anos depois. Reunia apenas 34 funcionários, sob o comando do procurador-geral Charles Bonaparte. Sua principal missão era investigar a venda ilegal de terras. A virada nos rumos da agência começou em 1924, quando o advogado J. Edgar Hoover assumiu sua direção, aos 29 anos. Obcecado por segurança e dono de uma personalidade marcada pela paranóia – enxergava "comunistas" e "inimigos da América" por todos os lados -, Hoover só deixou o cargo 48 anos depois, quando morreu.

Nos chamados anos Hoover, oito presidentes passaram pela Casa Branca e a agência se profissionalizou, aprimorando o treinamento de seus agentes e montando laboratórios de ponta. Entre outras preciosidades, o edifício-sede, em Washington, abriga um banco de dados com 55 milhões de impressões digitais e suas respectivas fichas criminais. Por outro lado, Hoover instaurou um regime no qual a espionagem e a escuta telefônica se tornaram corriqueiras. Entre as personalidades que mandou espionar estavam Albert Einstein, Charles Chaplin, Frank Sinatra, John Lennon, Marilyn Monroe, Martin Luther King e Pablo Picasso. Os arapongas de Hoover também bisbilhotaram todos os ocupantes da Casa Branca, em especial o presidente John Kennedy e seu irmão e ministro da Justiça, Robert Kennedy.

O homem que se tornou o símbolo do próprio FBI começou sua trajetória de sucesso ao combater quadrilhas de assalto a banco, como a de Bonnie e Clyde (leia quadro), mas jamais atacou de frente a máfia. Trinta e seis anos depois de sua morte, persistem rumores de que o celibatário Hoover era condescendente com a máfia porque um dos líderes do crime organizado, Meyer Lansky, tinha fotos dele na cama com um amante. Sua postura em relação à máfia fica ainda mais suspeita diante dos mais recentes documentos liberados pelo FBI. Eles mostram que, nos anos 1950, às vésperas da eclosão da Guerra da Coréia, Hoover elaborou um plano para prender 12 mil americanos com o objetivo de "proteger o país contra a traição, a espionagem e a sabotagem". Termos muito parecidos aos usados pelo atual diretor em sua batalha contra o terrorismo.

 

i53413.jpgOs assaltos liderados pelo casal Bonnie Parker e Clyde Barrow aterrorizaram o interior americano no começo dos anos 1930. Os dois acabaram mortos a tiros durante emboscada preparada pelo FBI em maio de 1934
i53414.jpgA MORTE DE DILLINGER
Líder de uma quadrilha especializada em roubo a banco durante a depressão, John Dillinger ganhou fama pelas ações e fugas cinematográficas. Foi morto pelo FBI em julho de 1934, quando saía de um cinema
MISSISSIPI EM CHAMAS
Convocado para investigar o sumiço de três ativistas dos direitos civis no Mississipi, em junho de 1964, o FBI localizou seus corpos e reuniu provas contra integrantes do grupo Ku Klux Klan, que perseguia negros
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i53416.jpgO UNABOMBER
Theodore John Kaczynski era matemático e se tornou alvo do FBI por enviar bombas por correio entre 1978 e 1995, matando três pessoas e ferindo 23. Preso em abril de 1996, cumpre pena de prisão perpétua
i53417.jpgPATTY HEARST
Neta de um magnata, Patricia Hearst aderiu ao grupo que a seqüestrou, em fevereiro de 1974, e chegou a assaltar banco. Capturada pelo FBI, foi condenada pela Justiça, mas recebeu indulto do presidente Jimmy Carter