Há duas semanas, já eram otimistas as previsões sobre a descoberta de um planeta semelhante à Terra fora do nosso Sistema Solar. Cientistas americanos chegaram até mesmo a afirmar que tal corpo celeste surgiria até maio de 2011. Uma pesquisa recém-divulgada pela publicação especializada “Astrophysical Journal”, no entanto, antecipou as coisas consideravelmente. Astrônomos do Carnegie Institution for Science, nos EUA, descobriram um planeta com grandes chances de ser habitável a 20 anos-luz (200 trilhões de quilômetros) do nosso. O Gliese 581g está dentro da chamada “zona de habitabilidade” – ou seja, encontra-se distante o bastante da estrela de seu sistema para que sua temperatura superficial propicie a existência de água em estado líquido.

“A temperatura da atmosfera entre -310C e 120C torna possível que ele tenha água líquida”, diz Amâncio Friaça, especialista em astrobiologia da Universidade de São Paulo (USP). “Não é preciso necessariamente haver essas condições para que exista vida, mas elas aumentam muito as chances”, explica. A descoberta foi divulgada junto com a do Gliese 581 f, no mesmo sistema solar, mas com poucas chances de ser habitável. Com eles, o número de planetas em torno da estrela Gliese 581 (seis) se equipara ao daqueles que circundam o nosso Sol.

O primeiro exoplaneta – nome dado a corpos do tipo fora do nosso Sistema Solar – foi descoberto há apenas 15 anos. Desde então, já são 492 catalogados. “Os métodos e as tecnologias usadas nas buscas se tornaram muito melhores ao longo desse tempo”, disse à ISTOÉ Samuel Arbesman, professor da Universidade de Harvard (EUA) e um dos cientistas que previram a descoberta de um astro igual à Terra no ano que vem. “Cruzando os dados das descobertas feitas até a publicação do nosso estudo, podemos dizer que as chances de um planeta igual ao nosso ser encontrado até maio de 2011 são de 50%. A probabilidade de isso acontecer no fim de 2013 é ainda maior, de 75%.” Apesar de potencialmente habitável, o Gliese 581g tem de três a quatro vezes a massa da Terra. Sua descoberta mostra que outros como ele podem ser muito mais comuns do que se pensava.

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O Gliese 581 g demora 36,6 dias para orbitar seu sol, o que faz com que seu ano seja dez vezes mais curto que o nosso. Outra diferença é que ele não gira em torno de si próprio, como acontece com o planeta em que vivemos. Por isso, um lado é sempre iluminado e quente, enquanto o outro permanece escuro e gelado. Uma região intermediária entre essas duas poderia abrigar seres vivos. Mas a “habitabilidade” depende ainda de outros fatores. A gravidade deve ser forte a ponto de suportar uma atmosfera e a superfície deve refletir a luz do sol para gerar um efeito estufa, essencial para a regulação da temperatura. Exatamente o que acontece por aqui.

“As chances de acharmos um planeta igual ao nosso até maio de 2011 são de 50%”
Samuel Arbesman, professor da Universidade de Harvard
 

Embora saibamos tantas características desses astros, elas ainda são estimativas. Eles não são “vistos”, apesar das belas imagens que se tem depois de descobertos – que são na verdade projeções artísticas, assim como as ilustrações de muitas espécies de dinossauros, por exemplo. Para achar um planeta é preciso encontrar a estrela que ele circunda. Depois, ao perceber que a luz que ela emite diminui em um determinado intervalo de tempo, é possível estimar as peculiaridades do que está gerando esse ofuscamento – um planeta passando em volta, invariavelmente.

Detectar vida nos exoplanetas, no entanto, é uma tarefa ainda impossível. O projeto Darwin, da Agência Espacial Europeia, era o que podia chegar mais próximo disso. Ele pretendia pôr em órbita uma constelação de quatro ou cinco satélites. Aí sim seres unicelulares – a forma de vida mais provável de ser encontrada – poderiam ser flagrados. O projeto, porém, foi paralisado em 2007 e não tem previsão de voltar à ativa, por causa de seu alto custo. “A tecnologia para detectar vida em outros planetas ainda vai demorar 20 ou 30 anos para surgir”, prevê Friaça, da USP. “Conhecer os lugares que têm condições de abrigar esses seres vivos é importante para sabermos exatamente onde procurar por eles depois”, conclui.

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DE OLHO
O observatório Leonhard Euler,
na Suíça, é um dos centros de busca por exoplanetas