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NO TOM
Julian Ludwig  e Leo Leite
compõem trilha sonora para jogos

Nas telas coloridas do computador, do celular ou da televisão, o mundo dos games aparece como um espaço de diversão e aventura que faz a alegria de milhões de jogadores em todo o mundo. Mas, por trás desse cenário virtual, o jogo é sério. Há uma poderosa indústria que gera muito dinheiro e supera até o faturamento dos estúdios cinematográficos. Segundo a consultoria Pricewaterhouse, em 2012 as empresas de games deverão faturar R$ 68 bilhões. Para alimentar essa produção são necessários profissionais de vários tipos, uma diversidade de funções que os jovens usuários talvez nem suspeitem existir. Além dos programadores, a atividade conta com craques em design, roteiro, dublagem, criação musical, arranjo e diversas outras especialidades. A expectativa de que o mercado brasileiro de games cresça este ano dez vezes em relação a 2009 anima os profissionais e tem motivado um aumento de procura por cursos na área. “Para aqueles que se aperfeiçoam, posso dizer que o mercado está muito bom”, assegura Douglas Vargas, coordenador da escola Seven, que ocupa um prédio de sete andares no centro do Rio de Janeiro, inteiramente projetado para ensinar as artes do game.

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AULA
Douglas Vargas, da escola Seven, que
tem capacidade para dois mil estudantes: 200
matrículas mesmo antes de começar a funcionar

Por todo o País há cursos livres, de graduação e pós-graduação, para quem quer aprender alguma das funções da linha de produção dos jogos eletrônicos. Os profissionais brasileiros começam a chamar a atenção do mundo, tanto que a Sony e a Nintendo estão abrindo representações no País. O paulista Leo Leite, 33 anos, é um dos profissionais que já mostraram seu valor no Exterior. Ele foi um dos criadores da trilha sonora do megassucesso The Sims e recentemente também atuou na trilha de outro hit, o jogo para celular Snakers. Leite morava em Nova York e voltou a viver no Brasil, animado com as possibilidades de trabalho. “A tendência do mercado é crescer”, acredita ele. Essa perspectiva foi um incentivo para um amigo de Leite entrar no ramo. Julian J. Ludwig, 23 anos, prepara seus dois primeiros projetos de trilhas para games. “A ideia da música, nesse caso, é transmitir algum sentimento que a imagem não consegue passar”, explica Ludwig. “Para chegar a esse resultado, há uma intensa troca entre programadores e músicos.”

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NOVO NICHO
O dublador  Sérgio Fortuna
ampliou seu mercado

Mesmo profissionais mais velhos e que nunca botaram a mão num joy stick estão sendo beneficiados por esse aquecimento do mercado. É o caso do dublador Sérgio Fortuna, 59 anos. Acostumado a atuar em versões para o português de sucessos do cinema e da tevê, ele viu um bom campo de trabalho surgir depois que participou da dublagem do sucesso Halo 3 – acabou de atuar na continuação do jogo. “É muito diferente da dublagem com que estava acostumado”, diz Fortuna. “Dublamos sem imagem, apenas com a orientação do diretor para dar a entonação certa a cada frase.” São centenas de expressões que o jogador ouve a cada novo passo que o personagem dá em direção ao objetivo final. Uma ajuda extra que há pouco tempo não existia. “As frases dubladas em português também servem de orientação para o jogador, que agora vai poder concentrar sua atenção no jogo e não precisa mais traduzir a fala do personagem”, explica Marcelo Coutinho, um dos diretores do estúdio Double Sound, no Rio de Janeiro.

A criação de um game que é sucesso internacional pode demorar vários anos, do momento da concepção até o lançamento do produto no mercado. Mas há jogos mais simples, desenvolvidos em meses. Dessa linha de produção participam vários profissionais, que pretendem se beneficiar do crescimento do mercado brasileiro. O faturamento do setor no Brasil chegou a R$ 87 milhões em 2009 e deve crescer muito mais nos próximos anos, segundo a Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Eletrônicos (Abragames). Apesar da pirataria, o mercado registrou alta de 27% nos primeiros quatro meses de 2010, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Uma das áreas em que deverá haver grande crescimento é a de jogos online, que ainda é recente no País. Esse tipo de game é um dos que mais crescem no mundo e tem sido responsável por gerar muitas divisas para países como a Coreia, onde existe até um ministério voltado exclusivamente para os jogos online. “Há quem diga que nós somos o que a Coreia era há oito anos”, avalia Gilberto Akisino, diretor da empresa paulista Gamemaxx. “Também podemos nos transformar num polo de tecnologia.” Os jovens parecem estar atentos para esse nicho tão promissor. Mesmo antes de abrir, a Seven Games recebeu a matrícula de 200 alunos em diversos cursos. A capacidade da escola é de dois mil estudantes. É gente de olho na boa remuneração que esse trabalho pode proporcionar. “Um estagiário começa hoje com salário em torno de R$ 2 mil ou R$ 3 mil e os profissionais master podem receber até R$ 30 mil”, conta Vargas. Os números provam que os games são, definitivamente, um jogo sério.

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