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Há exatos 23 anos, o filme “Wall Street: Poder e Cobiça”, do diretor Oliver Stone, fazia história. Além de garantir um Oscar de melhor ator para Michael Douglas, por sua atuação como o inesquecível vilão Gordon Gekko, o longa sobre os bastidores do mercado financeiro americano também influenciava a moda. Seus personagens, representações de grandes especuladores, banqueiros e executivos, lançaram tendências que até hoje aparecem nos armários de homens bem-sucedidos em todas as áreas, estabelecendo um verdadeiro manual com os códigos de poder masculinos. Agora, a continuação “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” promete atualizar tais símbolos e indicar as próximas tendências fashion dos poderosos de Nova York.

A difícil tarefa de transpor para as telas o look de Wall Street pós-crise econômica ficou a cargo da figurinista Ellen Mirojnick, a mesma que assinou os modelitos usados por Douglas e companhia em 1987. “Para o primeiro filme, não fiz nenhuma pesquisa”, admite Ellen. “Queria apenas deixar Gekko o mais sedutor possível, com um ar de galã dos anos 30, mesmo sendo um vilão.” Inspirada pelo ator Cary Grant, a figurinista escolheu para o personagem de Douglas algumas peças que se tornaram ícones de poder na época: camisas com colarinho branco contrastante, suspensórios com detalhes em ouro, relógios da marca Rolex e ternos com padronagem grande de xadrez. Para a versão 2010 do drama, Ellen fez o caminho inverso. Criou o figurino a partir do que viu nas ruas do coração financeiro de Nova York.
No filme, Gekko acaba de ser libertado após cumprir oito anos de reclusão por crimes fiscais. Ao deixar a cadeia, vestindo uma camisa e jaqueta simples, recebe de volta um lenço de seda quadrado, seu inseparável Rolex, um anel de ouro e um celular gigantesco para os padrões atuais. Aos poucos, retoma seu papel de influência no mercado, e seu figurino acompanha essa ascensão. A volta por cima de Gekko é marcada por camisas com colarinho de abotoadura dupla e cores sóbrias, como azul, branco e cinza. Também se destacam coletes de alfaiataria, gravatas em cores e estampas ousadas e ternos com caimento mais seco. Numa sequência, o personagem aparece em um ateliê de alfaiataria, finalizando um belo terno azul-marinho, e depois em um luxuoso sapateiro, onde escolhe quatro pares de sapatos feitos artesanalmente.

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SÍMBOLOS DE ONTEM E HOJE
O poderoso look do especulador Gordon Gekko, versão 1987 (à esq.) e 2010

“As mudanças de figurino dos personagens representam suas viradas financeiras e de caráter, tanto no primeiro como no novo ‘Wall Street’”, explica Ellen. A importância do visual para os altos executivos de Wall Street ficou evidente em uma cena memorável do longa dos anos 1980. Num almoço em um restaurante chique, o personagem Bud Fox, vivido pelo ator Charlie Sheen, encontra seu mentor, Gekko. Este, depois de sugerir que seu pupilo experimentasse o maravilhoso steak tartar do lugar, dá um conselho a Fox. “Compre um terno decente. Você não pode entrar aqui vestido assim. Vou recomendar um alfaiate”, diz Gekko. E a dica faz efeito. À medida que cresce o patrimônio de Fox, o guarda-roupa do jovem especulador fica recheado de itens inspirados em seu mestre: ternos feitos à mão, abotoaduras francesas, óculos do tipo aviador com lentes pretas, e, claro, os icônicos suspensórios.

Responsável pela mais importante grife de alfaiataria masculina do País, o estilista Ricardo Almeida concorda que as roupas e acessórios mostrados na versão 2010 de “Wall Street” são os atuais códigos de poder do vestuário masculino, mas faz algumas ressalvas. “Quem está no topo da pirâmide pode se dar ao luxo de usar o que quiser. Porém, nem tudo é permitido aos outros mortais”, afirma. Almeida explica que cores claras e alegres ainda são muito raras entre os executivos da área financeira. “Uma camisa rosa, por exemplo, denota ousadia e isso pode assustar alguns investidores mais conservadores”, diz. Já para o consultor de estilo Sylvain Justum, o maior empecilho para a aceitação dos novos símbolos pelos homens brasileiros é o seu alto preço. “Um terno bem cortado e com lã de boa qualidade é difícil de ser encontrado, custa caro e não há muitas opções nacionais”, diz Justum. “Por isso, se quiser estar de acordo com as últimas tendências, o homem tem que se preparar para um bom investimento.”

Como gastar não é problema para os personagens de “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”, o espectador poderá ver na tela um desfile de peças extremamente luxuosas. Entre elas estão seis ternos de alfaiataria usados por Jacob Moore, interpretado por Shia LaBeouf, que custaram US$ 6,5 mil cada um. E as gravatas Hermès, do mesmo personagem, com valor a partir de US$ 100, parecem uma verdadeira bagatela se comparadas aos relógios das marcas suíças Vacheron Constantin e International Watch Co., que podem chegar a custar até US$ 124 mil. Investimento reservado apenas para os homens que, realmente, atingiram o topo.
 

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