" A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro.” Trecho da declaração da Unesco sobre Tolerância, de 1995."

Nove anos após a Unesco dedicar um documento ao tema, a consciência quanto à tolerância ganha destaque e vira política interna em grandes companhias. Em fevereiro, a Radiobrás estendeu benefícios como plano de saúde e auxílio-creche a companheiros de funcionários homossexuais. Foi a primeira instituição pública federal a tomar essa iniciativa. De lá para cá, as multinacionais IBM e American Express fizeram o mesmo. Mas, no universo corporativo, os homossexuais não são os únicos contemplados. Idosos, negros, deficientes físicos e mulheres também estão no centro de projetos de promoção da boa convivência nas empresas. Neste mês, a rede Pizza Hut, por exemplo, criou o Atividade, programa que emprega pessoas com mais de 65 anos. A paulista Dora Tavares, 76 anos, é uma das primeiras contratadas. “Fiquei parada por 15 anos, entrei em depressão e perdi a vontade de viver. Agora é diferente. Trabalhar com gente jovem é muito bom. Eles me elogiam e incentivam”, diz Dora, entusiasmada com o emprego de recepcionista.

Trabalhos de inclusão como esses fazem parte de uma tendência mundial que se baseia, em boa parte, na constatação óbvia de que funcionário satisfeito com seu ambiente de trabalho produz melhor. Por isso, o primeiro passo dos programas é sensibilizar empregados, colaboradores e gestores para o respeito às diferenças de modo a criar um clima favorável ao desenvolvimento de todos. A indústria química Basf, por exemplo, não poupa esforços para integrar negros, homossexuais e portadores de deficiências. São palestras e debates realizados com os funcionários, visando à harmonia no grupo e à quebra de preconceitos. Outra medida é modificar equipamentos e ambientes para os portadores de deficiência. A analista de planejamento estratégico Juliana Dias de Souza, 24 anos, é portadora de nanismo e tem cadeiras e banheiros adaptados. Juliana entrou na Basf há três anos por meio de um processo de seleção comum: enviou o currículo e foi aprovada. “O fato de ser anã não me impediu de trabalhar aqui”, diz. Antes, Juliana era professora de inglês em uma escola sem adaptações. “Quem é portador de deficiência sabe o quanto é difícil trabalhar em um lugar sem estrutura. Chega a dar desânimo”, comenta.

Muitas vezes, consultores auxiliam na criação de projetos que estimulam a integração. O banco Real, por exemplo, contratou Reinaldo Bulgarelli para montar um programa em São Paulo. Ele já havia criado um bem-sucedido projeto de inclusão para negros. “O movimento de responsabilidade empresarial tem motivado as companhias a eliminar posturas discriminatórias dos processos de seleção e promoção”, assegura. De fato. Em 2003, a deficiente visual Thays Martinez assumiu o cargo de analista na diretoria de segmentos do banco, onde desenvolve estratégias para a conquista de clientes. “No caso do deficiente visual, só é necessário um software que viabilize o uso do computador. De resto, basta que nos tratem naturalmente, atribuindo responsabilidades e cobrando resultados, para que possamos crescer”, afirma.

Projetos de tolerância corporativa acontecem atualmente em muitas empresas. Na Multibras (dona das marcas Brastemp e Cônsul), o Programa de Valorização da Diversidade, implantado este ano, tem contribuído para conscientizar os funcionários por meio de palestras. A equipe aprende a lidar melhor com as diferenças e com os próprios clientes. Para o consumidor portador de alguma deficiência, por exemplo, é importante saber que a companhia respeita e está preparada para lidar com diferentes perfis.