Máquina de escrever, mimeógrafo, fita cassete, pager, toca-discos, telex. Para os entusiastas, são produtos que marcaram época e fazem parte da memória afetiva. Para os detratores, velhos e ultrapassados. Apesar de ir na contramão do avanço tecnológico, entusiastas e saudosistas garantem a esses produtos um nicho de mercado fiel, mas, em termos de volume, muito limitado. Os papéis carbono e hectográfico usados para fazer cópias são exceções, o que deixa seu fabricante, a Helios – especializada em materiais de escritório –, em um interessante paradoxo. Ao mesmo tempo que tem de adaptar seu portfólio aos novos tempos, os tradicionais grampeadores, carbono e hectográfico representam mais de 40% do seu faturamento. Em números, são mais de R$ 35 milhões em vendas anuais. Ao contrário dos outros itens “ultrapassados”, que têm um mercado residual, as vendas de papéis para cópias estão em franca expansão. E os executivos da empresa garantem que não há a menor hipótese de diminuir a produção.

Há três anos, eram produzidas 300 mil caixas de hectográfico. Até o final de 2005, esse número vai dobrar. Além de uma terceira máquina, que entrará em breve em operação, a fábrica em Manaus (AM) trabalha em três turnos para dar conta da demanda. Líder na produção do papel carbono e do hectográfico no Brasil, a companhia domina mais de 80% do mercado. Engana-se quem pensa que a demanda desses papéis está só no Brasil. Países da América Latina, da Ásia e dos Emirados Árabes compram R$ 10 milhões por ano em papel carbono e hectográfico da Helios. E mais: um acordo comercial recém-firmado com a francesa Maped, também produtora de material de escritório, possibilitará o acesso aos produtos da empresa brasileira a mais 130 países.

Os principais consumidores de papel carbono são órgãos públicos, microempresas e o pequeno comércio. Já o hectográfico é vendido basicamente para escolas, sendo que 40% vão para o Norte e Nordeste, regiões onde o computador ainda não chegou em larga escala. Se levarmos em conta que menos de 10% da população brasileira tem acesso à internet, não é de estranhar que a educação das crianças brasileiras ainda passe pelo cheiro do álcool e pela manivela do mimeógrafo. O grande atrativo do papel hectográfico é justamente seu custo, mínimo, se comparado ao das impressoras, que gastam fortunas com energia elétrica e toner. Com uma folha de papel hectográfico e um pouco de álcool, é possível fazer até 180 cópias. “Somos um país em desenvolvimento. Ainda existe muita criança para ser educada. E o mimeógrafo é uma forma inteligente e barata de educar. A nossa previsão de produção do papel hectográfico é eterna”, avalia o presidente da Helios, Arnaldo Bisoni. Mesmo não tendo planos de parar a produção dos produtos considerados antigos, a Helios vai atrás de inovação para não correr o risco de perder o trem da história. A contratação de Bisoni, no final do ano passado, trouxe a profissionalização da empresa. Além disso, ela pretende produzir, dentro de dois anos e aqui no Brasil, toners para impressoras a laser. Para completar a reestruturação, a parceria com a americana Crayola trará os famosos giz de cera usados pelas crianças americanas para as mãos das brasileiras.

Fundada em 1922 pelo italiano Eugênio Sacchi, no Centro de São Paulo, a Helios ganhou seu nome definitivo quatro anos depois, em homenagem ao deus grego do sol. Sempre ligada à impressão, começou produzindo fitas para máquina de escrever. Em 1935 veio o papel carbono e 15 anos depois o hectográfico. Em 1954, o filho mais novo de Eugênio, não por acaso chamado Hélio, assumiu e modernizou a companhia. Quarenta anos mais tarde, a Helios compraria a Carbex, sua principal concorrente. Dobrou de tamanho, mas enfrentou prejuízos em 2003 e 2004. Com capital e tecnologia 100% nacionais, a empresa quer voltar aos bons tempos, vendendo de papel carbono a cartuchos de impressora.