Um sofisticado equipamento de vídeo,
no valor de R$ 14,7 milhões, iria filmar
as cenas de violência no centro de Belo Horizonte. Elas ainda não mostraram
nenhum delito, mas podem ser o
flagrante de uma operação financeira que junta Marcos Valério, a prefeitura petista de Belo Horizonte e o caixa 2 nacional do PT, que pagou Duda Mendonça. Documentos obtidos pela Promotoria Especializada de Defesa do Patrimônio Público de Minas Gerais indicam que parte dos cerca de R$ 12 milhões pagos por Marcos Valério a Duda, no Exterior, teve como origem um convênio, no valor de R$ 14 milhões, assinado sem licitação entre a prefeitura e o Clube dos Diretores Lojistas de Belo Horizonte (CDL).

O convênio, que previa a compra e a instalação de cerca de 300 câmeras para filmar a violência no centro de BH, foi assinado no dia 14 de janeiro de 2004 pelo prefeito Fernando Pimentel e pelo diretor financeiro do CDL-BH, Glauco Diniz Duarte, dono da GD International Corp., uma das empresas que pagaram Duda, conforme revelou ISTOÉ na edição 1872.

As transferências de recursos da conta da GD International no banco BAC Flórida para a conta Dusseldorf de Duda, no Bank Boston de Bahamas, coincidem com os períodos dos pagamentos da prefeitura ao CDL. Vale lembrar que o marqueteiro do presidente Lula também trabalhou para a campanha de Pimentel. Para o Ministério Público, esses fatos reforçam as suspeitas de que o tal contrato entre a prefeitura e o CDL só serviu para justificar o pagamento de dívidas de campanha.

Recolhido pelos promotores de Minas em várias repartições públicas, um arsenal de documentos mostra que, além de corrupção, o contrato resultou em outros crimes ainda mais cabeludos: estelionato, contrabando, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crime contra o sistema financeiro e formação de quadrilha. Devido à ação do MP, a prefeitura acabou repassando ao CDL apenas R$ 4,7 milhões referentes à compra de cerca de 72 filmadoras.

As suspeitas da fraude na compra estão documentadas. Relatório da Secretaria da Fazenda de São Paulo afirma, por exemplo, que a M.F Comercial Distribuidora de Produtos de Informática Ltda. – empresa paulista que emitiu as notas ao CDL que justificaram o repasse do dinheiro da prefeitura – é fantasma. O endereço e os sócios não existem. “Constatamos que o IPTU entregue para a abertura da empresa é de outro endereço, e parece que foi feita uma montagem para forjar esse documento. Não existe contador e tampouco endereço dos sócios”, diz o documento.

As investigações do MP apontaram que o estelionato serviu para encobrir outro crime: o contrabando das 20 filmadoras entregues pelo CDL à prefeitura, trazidas irregularmente da Califórnia (EUA). Os promotores estimam que houve um superfaturamento de cerca de R$ 2 milhões na compra desse equipamento. Esse valor corresponde justamente à quantia enviada pela GD, empresa de Glauco, a Duda no Exterior. “Não temos nenhuma dúvida de que o dinheiro pago pela GD a Duda veio dos cofres públicos”, disse um dos promotores envolvidos nas investigações. O presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Eletrônica do Estado de Minas Gerais, Sérgio Americanos Mendes, estimou um superfaturamento ainda maior na venda dos equipamentos. “Fiz um orçamento com uma empresa do Texas, que apontou que, incluindo as taxas de importação, dava para comprar todo o material por R$ 518 mil”, disse Mendes em depoimento aos promotores. Além do convênio denominado “Olho Vivo”, o empresário Glauco recebeu gratuitamente arquivos sigilosos e espaços publicitários da prefeitura.