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A Petrobras finalizou nessa quinta-feira (23) sua megacapitalização, que atingiu pouco mais de R$ 120 bilhões (US$ 70 bilhões). É a maior operação do gênero na história, à frente da japonesa Nippon Telegraph (US$ 37 bilhões em 1987) e do Agricultural Bank of China (US$ 22,1 bilhões neste ano).

A estimativa é de que cerca de R$ 50 bilhões entrem no caixa da estatal como "dinheiro novo", já que o restante foi aportado pela União na chamada cessão onerosa (composta por 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal).

Na manhã desta sexta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará de cerimônia na BM&FBovespa para celebrar a operação. Na quinta, em Maringá, antes mesmo da divulgação oficial dos valores, ele já havia dito que a capitalização alcançara US$ 70 bilhões.

A demanda pelas ações superou em cerca de duas vezes a oferta. É um desempenho considerado positivo, levando-se em conta o tamanho da operação. No entanto, os fundos soberanos, principalmente da Ásia, tiveram interesse menor do que o estimado. Essa "fraqueza" teria sido compensada pelo apetite voraz dos investidores de varejo e do governo.

Apesar da demanda forte, o Conselho de Administração da estatal decidiu dar um desconto no preço das ações. Os papéis preferenciais (PN) saíram a R$ 26,30 (1,8% abaixo da cotação de quinta). Os ordinários (ON) foram cotados a R$ 29,65 (2% abaixo do valor de mercado).
Nessa quinta, aliás, diferentemente do que se esperava, as ações da estatal tiveram expressiva valorização na Bovespa. As PNs subiram 4,12% e as ONs, 2,76%. Segundo analistas, é mais uma prova da demanda aquecida.

Um especialista explicou que, numa operação "normal", quando a oferta supera a demanda, a empresa não dá desconto. No caso da Petrobras, no entanto, esperava-se o desconto para aumentar a possibilidade de valorização do papel nesta sexta, quando Lula estiver na Bovespa.

Governo fica com R$ 74 bi

Mesmo depois da fixação do preço das ações da Petrobras que servirá de base para a capitalização, uma questão permanece indefinida: como o governo dividirá a participação de seus agentes. Tesouro Nacional, Fundo Soberano do Brasil (FSB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal terão participações distintas, seguindo os critérios do Ministério da Fazenda. De certo está o aporte do governo, de R$ 74 bilhões.

Nos próximos dias, paralelamente ao início da negociação das novas ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e à liquidação das ações – como é chamada a quitação dos papéis pelas corretoras – a equipe técnica do governo estará debruçada nos cálculos que formarão o novo desenho da participação estatal na Petrobras. A entrada do Fundo Soberano e da Caixa faz parte da estratégia de aumentar a parcela estatal, mas pulverizando em diferentes veículos. O BNDES já detinha participação considerável no capital da companhia (7,7%), principalmente em ações sem direito a voto (preferenciais: PNs).

Para não ver essa parcela ser diluída na operação de capitalização, o banco já estava se preparando, de acordo com fontes ligadas à operação, para desembolsar cerca de R$ 7 bilhões de seu caixa para seguir a oferta. Agora, detém participação ainda mais substancial (9,2%), graças ao aporte de ações do Tesouro, no mês passado, que promoveu uma "capitalização dentro da capitalização". Injetou R$ 2,5 bilhões na Caixa e R$ 4,5 bilhões no BNDES em ações da Petrobras.

O mesmo Tesouro vai dar as cartas: quanto caberá à Caixa, ao BNDES e ao Fundo Soberano ao fim do processo. Pura estratégia de governo, para movimentar recursos nas próprias estatais, misturar recursos em dinheiro aos títulos do governo que serão usados na capitalização e decompor sua participação na estatal que, pela aspiração do governo, pode passar de 50% do capital total.

Lula

Vestindo o jaleco laranja característico dos funcionários da Petrobras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva posou bem humorado para as fotos no acionamento do botão que marcou a abertura da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no pregão desta sexta-feira. "Vamos continuar aqui. Enquanto tiver aplausos e ficarmos apertando o botãozinho, as ações vão subindo", brincou o presidente com quem estava ao seu lado – o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o vice-presidente José Alencar, o ministro Marcio Zimmermann e o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.

A cerimônia já havia encerrado a etapa de discursos, mas o microfone próximo ao presidente estava aberto e suas tiradas puderam ser captadas na transmissão ao vivo. Ele também disse que, ao se manter por lá, estava querendo "manter o bom humor da Bolsa". Lula também brincou um pouco antes, quando viu que não teria que usar um martelo típico dos leilões, mas o botão de acionamento do pregão. "A modernidade substituiu o martelo por um botão."

Lula por várias vezes também comentou que, há algum tempo, ninguém poderia imaginar que ele estaria naquela posição hoje. "Houve um tempo em que se eu passasse ali na porta, todos ficariam com medo, porque me achavam um comedor de capital", afirmou.

O presidente se emocionou ao iniciar seu discurso na cerimônia de lançamento. "Deus foi muito generoso não só comigo, mas com o povo brasileiro, que esperou por muito tempo a chance de ser respeitado no mundo", afirmou o presidente, com a voz embargada. Isso, segundo ele, se deu a custo de muito trabalho e representa o desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Lula ressaltou a importância da capitalização da Petrobras como uma "decisão soberana da sociedade que projeta o seu futuro".

Ele afirmou que a capitalização é a salvaguarda para evitar que riquezas se percam. Ressaltando a extraordinária evolução da Bolsa nos últimos anos, Lula afirmou que, em 2003, a Bovespa não chegava aos 14 mil pontos e hoje já está em torno de 70 mil pontos. "O Brasil está muito orgulhoso do Brasil", afirmou.

O presidente acrescentou que no dia 3 de outubro, "quando ocorrerá a festa das urnas, ocorrerá também a festa de aniversário da Petrobras". A empresa completará 57 anos. "A Petrobras é a maior da América Latina e uma das maiores empresas do mundo e hoje consolida um novo marco histórico com essa oferta de ações", disse o presidente, ressaltando a tecnologia de ponta da estatal, que permitiu a descoberta das reservas no pré-sal.