Uma história de amor entre uma  jovem, cooptada pelo regime comunista albanês para tentar identificar possíveis candidatos a dissidentes, e um soldado que sonha ser ator de teatro, mas acaba envolvido numa pantomima absurda. Esses são os elementos que conduzem o enredo de Vida, jogo e morte de Lul Mazrek (Companhia das Letras, 229 págs., R$ 36). O autor, Ismail Kadaré, lança mão mais uma vez dos momentos de desespero do regime decadente para mostrar sua habilidade com a palavra. E principalmente, o gosto amargo dos sonhos vividos sob o signo do autoritarismo e da repressão.

Os personagens de Kadaré não sabem como viver a paixão, porque da idade ingênua foram içados bruscamente para a ação subterrânea. Violtsa, jovem funcionária de banco estatal, é cooptada para servir de isca para os descontentes na aprazível Saranda, balneário próximo à costa grega. Lul Mazrek, o ator frustrado, encontra a oportunidade com que sempre sonhou ao preço alto do recém-encontrado amor de sua vida. E nem o possível escapismo da pequena cidade beira-mar sobrevive quando relatado pelo tom amargo do autor albanês. Por mais bela que seja a descrição, a areia sempre passa a impressão de estar suja e a água, poluída pelo sangue dos que tentaram conquistar a nado sua liberdade.