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VIOLAÇÃO
Operações entre o Banco do Vaticano e o Artigiano
despertaram suspeitas das autoridades europeias
 

Não bastassem as sucessivas denúncias de crimes sexuais que macularam a imagem da Igreja Católica na última década, a Santa Sé vê-se agora no centro de um novo escândalo, desta vez financeiro. Na terça-feira 21, um tribunal de Roma acusou o Instituto para Obras Religiosas (IOR), o Banco do Vaticano, de violar as normas europeias de combate à lavagem de dinheiro. O IOR não comunicou às autoridades um depósito de 23 milhões de euros, o equivalente a R$ 53 milhões, no minibanco privado Credito Artigiano. A Justiça determinou o bloqueio do dinheiro e cobrou do instituto que identifique os beneficiários da operação e sua finalidade. A lei italiana prevê prisão e multa de até 500 mil euros (R$ 1,15 milhão) para esse tipo de crime. Em nota oficial, a Secretaria de Estado do Vaticano disse que recebeu com “perplexidade” a medida judicial. Também emitiu uma lista de ações tomadas para garantir a transparência de suas operações financeiras, que até 2003 tinham imunidade de jurisdição. “Espero que seja verdade. A sensação é de que o palavrório oficial sobre a moral fica esquecido quando se trata de dinheiro”, disse dom Filippo Di Giacomo, sacerdote diocesano e comentarista de Igreja para a mídia italiana. 

O caso tem os ingredientes de um roteiro cinematográfico. A começar pelo homem que administra o Banco do Vaticano, Ettore Gotti Tedeschi. Banqueiro experiente, ele é ligado à Opus Dei, a tendência mais conservadora e retrógrada da Igreja, retratada no filme “O Código Da Vinci”. Suas ações são acompanhadas por um colégio de cinco cardeais nomeados pelo próprio papa Bento XVI. Até assumir o IOR, há um ano, Tedeschi era diretor da divisão italiana do Banco Santander. Ao se defender das acusações, o banqueiro se disse vítima de uma campanha de difamação. “Um erro de procedimento está sendo usado com desculpa para atacar o instituto, seu presidente e o Vaticano em geral”, alegou. O problema é que qualquer gerente de agência bancária sabe que uma movimentação desse porte teria de ser informada às autoridades, especialmente num momento em que a Europa vive o medo do terrorismo, que utiliza a lavagem de dinheiro para financiar suas ações criminosas.

Desde sua criação como instituição filantrópica em 1942, pelo papa Pio XII, o IOR tem atuado sem controle de organizações independentes ou de governos. Com Tedeschi, o instituto acatou as normas da União Europeia contra a lavagem. O problema é que o Banco do Vaticano já protagonizou escândalos semelhantes. O mais famoso envolveu o Banco Ambrosiano, que tinha como acionista majoritário o Vaticano. Seu dono, o banqueiro Roberto Calvi, foi acusado de usar a instituição para lavar dinheiro da máfia italiana. Com uma dívida de US$ 3,5 bilhões e um rombo fiscal de US$ 1,4 bilhão, o Ambrosiano foi à falência em 1982. Conhecido como o “Banqueiro de Deus”, Calvi fugiu da Itália e foi encontrado morto, enforcado, sob uma ponte de Londres. Com esqueletos como esse no armário, será preciso mais do que boas intenções para evitar que a Santa Sé mergulhe num novo inferno de denúncias.

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