24/09/2010 - 21:00
Isabeli Fontana tem 1,77 m e 55 kg de fibra. Modelo de sucesso no Brasil e no Exterior, aos 27 anos, ela afirma estar espantada por ainda fazer sucesso depois de uma década e meia de carreira. Em entrevista à ISTOÉ, essa curitibana de olhos azuis e mãe de dois meninos confirmou sua fama de passional e de dizer o que pensa. “Me falam que o meu maior defeito é a minha maior qualidade”, conta. “Por causa dessa tal liberdade de expressão, muitas vezes, sou mal interpretada.”
"Sempre gostei de negros. Ia para a Jamaica e ficava admirando
aqueles rastafáris. Digo para o Falcão que ele não é negro, que é mulato. Ele fica bravo”
“Na minha época, o Henri não era gay. Quando começamos a namorar, uma
galera do meio fashion dizia isso. Mas nunca dei ouvidos"
Quem é Isabeli Fontana?
Sou muito honesta e verdadeira comigo e com a minha vida. Mas, como espero reciprocidade, me desencanto com frequência.
Tem medo de errar na educação dos seus filhos?
Sempre fui muito rígida com o Zion (7 anos) porque queria que ele fosse perfeito. Mas, hoje, percebo que não precisava disso. Vejo que as
crianças aprendem com os exemplos e quando a gente bate na mesma tecla. Agora, deixo os dois (Zion e Lucas, que completará 4 anos em outubro) um pouco mais à vontade. Tento fazer o melhor. Leio vários livros sobre como educar crianças.
Você planejou as gestações?
A do Lucas foi planejada. A do Zion, não. Engravidei aos 19 anos, do meu primeiro namorado (o modelo Álvaro Jacomossi), usando DIU. Morava nos Estados Unidos, com a minha mãe, desde os 16. Quando fiz 18, falei: “Mãe, vai para casa que já sou grandinha, ganho meu dinheiro, pago minhas contas, me cuido. Vou ficar em Nova York com o meu namorado.” Tive uma briga séria com ela e ficamos mais de um ano sem nos falar.
Ficou com medo de os filhos atrapalharem sua carreira?
Não. Adolescente é inconsequente e eu não pensava em nada. Desde os 15 anos, sonhava ter um filho e uma família o mais rápido possível. Minha mãe dizia que eu dava murro em ponta de faca. Os meus agentes falavam: “Não tenha esse filho. Você é muito nova. Vai
acabar com a sua carreira.”
Os seus agentes queriam que você abortasse?
Nos Estados Unidos, é legalizado. E os meus agentes de lá me incentivaram a abortar. Eu dizia: “Vocês estão loucos, a coisa que eu mais quero é esse filho. Já o amo.” Casei com o Álvaro, mas percebi que aquela vida não era para mim. Queria que o meu filho me respeitasse e não me chamasse dos nomes que o Álvaro me chamava.
Com quem seus filhos moram?
Comigo, em São Paulo. Mas a guarda do Lucas é compartilhada. Ele mora um pouco comigo e um pouco com o pai (o ator Henri Castelli). Só viajo para o Exterior quando os trabalhos são realmente importantes.
Sente-se culpada quando tem de ficar longe?
Faço terapia e, ultimamente, tenho me sentido menos culpada porque sei que estou trabalhando também para o futuro deles. Muitas vezes, viajo para o Exterior e fico apenas três dias. Gasto um dia para ir, outro para trabalhar e outro para voltar. Quando estou em casa, faço valer a pena. Sou uma mãe presente. Levo à escola, à natação, ao parque. Fui criada com pai e mãe, mas cresci vendo muitas brigas. Achei mais saudável que os meus filhos não vissem esse tipo de coisa.
Como é a relação dos seus filhos com o seu namorado (Marcelo Falcão, vocalista de O Rappa)?
Falcão é um bom amigo, brincalhão. Tenho muito claro que não procuro um pai para os meus filhos, mas alguém que eles possam admirar como homem.
Como o Falcão vive no Rio, você não tem medo de a relação esfriar?
Aí é que a relação fica mais forte. Acho que é mais fácil a relação de um casal que mora junto esfriar.
Você toparia um relacionamento aberto?
Nem pensar. Sou totalmente antiga. Mesmo não morando na mesma casa, a fidelidade tem de ser total.
Quem tem mais ciúme?
Nós dois somos igualmente ciumentos, mas conseguimos administrar de uma maneira saudável. Uma vez, falaram que eu quebrei o braço de uma fã que se aproximou dele. Mas isso não aconteceu. Estávamos numa boate e eu falei: “O que é isso?”, e tirei o braço dela
educadamente. Algumas meninas veem o cara e ficam loucas, querem apertar, puxar o dread. Peraí… tem de ter um pouco de pudor, né?
Quem tomou a iniciativa na relação de vocês?
Foi o Falcão. Já tomei a iniciativa algumas vezes, mas pega mal. Pode parecer uma besteira absurda, mas acredito que, se o cara quer uma mulher, tem de ir atrás, seduzir, conquistar. Hoje em dia está tudo fácil. As mulheres não se valorizam, por isso são cada vez mais
desvalorizadas. As pessoas falam “peguei tal pessoa”. Pegar, o que é isso? E a conquista?
Você se fez de difícil?
Não é que eu tenha me feito de difícil. Minha melhor amiga queria ir ao show do Rappa e eu pedi para a minha agente telefonar para o agente dele. Mas o show seria na periferia de São Paulo e o agente dele achou perigoso. Depois disso, o Falcão tentou ligar para mim um monte de vezes, mas não conseguiu falar. Como sou uma mulher-macho, liguei de volta. Ele foi tão educado que achei até estranho. Me lembro da primeira frase dele: “Quando vou ter o prazer de estender o tapete vermelho para você ver um show meu?” Fiquei com aquela voz na cabeça. Quando voltei ao Brasil, ele foi à minha casa.
O que mantém a temperatura do namoro de vocês?
De vez em quando, sou insegura e acho que isso ajuda. É uma coisa que me faz um malzinho. Sou muito sexual e tenho meus jeitos de conquistá-lo. Às vezes, com jeito de menina. Às vezes, de moleca. Às vezes, de mulher. Ele fica surpreendido.
Em que lugar o sexo está na sua lista de prioridades?
Nas primeiras linhas.
O que vem antes do sexo?
A admiração. A admiração é uma coisa que me deixa com tesão.
Já enfrentaram preconceito por você ser branca e ele negro?
Da minha parte, sim. Minhas amigas achavam um absurdo. Mas eu sempre gostei de negros. Quando morava nos Estados Unidos e tinha dias livres, ia para a Jamaica e ficava admirando aqueles rastafáris. Digo para o Falcão que ele não é negro, que é mulato, café com leite. E ele fica bravo.
Algum tipo de olhar masculino a incomoda?
Não gosto quando falam besteiras no meu ouvido. Às vezes, uso roupas largas porque não quero ninguém me olhando. Sabe aquele olhar
de quem quer te comer? Detesto.
Qual é o seu maior defeito?
Me falam que meu maior defeito é minha maior qualidade. Por causa dessa tal liberdade de expressão, muitas vezes, sou mal interpretada. Às vezes, a gente fala tirando um sarro e as pessoas levam a sério.
Causou barulho uma declaração sua na qual dá a entender que o Henri é gay. Você disse que ele é gay?
Primeiramente, eu o respeito. Ele é pai do meu filho. O que eu disse é “se vocês têm tanta curiosidade, perguntem para a namorada dele.
Ou para ele, diretamente”. Na minha época, ele não era gay. Quando começamos a namorar, uma galera do meio fashion dizia isso. Mas nunca dei ouvidos.
E se seus filhos fossem gays?
O mundo está muito promíscuo e eu sou contra a promiscuidade. Gostaria que os meus filhos não fossem gays. Mas, se fossem, os aceitaria. Acho que o negócio é ser honesto. Se é gay, ok! Também não precisa disfarçar.
Você é a favor da legalização das drogas?
Para mim, é indiferente. Mas não vejo benefícios na liberação. Tive curiosidade de experimentar uma ou outra, mas pega mal dizer o quê.
Recentemente, no Twitter, você criticou a atriz Sthefany Brito, por causa da pensão que ela recebe do ex-marido, o jogador Alexandre Pato. Qual foi a razão da sua indignação?
Não fiz crítica. Comentei o que acho. Não quero conversar sobre isso porque não deveria ter comentado nada. A gente acha que está escrevendo para amigos, mas esse negócio (Twitter) é tão público que fico chateada comigo mesma. Me dei mal.
Pessoas públicas, como o goleiro Bruno e o ator Dado Dolabella, estão envolvidas em casos de violência contra mulheres. O que acha disso?
A partir do momento que um homem levanta a mão para uma mulher… a mulher tem de se dar valor. O Álvaro não era fácil. Teve um dia que
a gente brigou tanto que ele levantou a mão para mim. Eu falei: “Bate que eu te ponho na cadeia.”
No Brasil, mulheres ainda são vistas como cidadãs de segunda classe?
Acho que as mulheres já mostraram que são capazes e, hoje em dia, estão no mesmo nível dos homens. Uma mulher pode até ser presidente!
É por isso que você acha contraditório ganhar pensão do ex?
Eu nunca quis pensão de ex-marido e tenho de ralar muito para sustentar os meus filhos e pagar minhas contas. Não ganho milhões. Faço muitos trabalhos de graça porque é bom para a minha carreira.
Mas os seus filhos ganham?
A guarda compartilhada é assim: eu pago algumas coisas (para o Lucas) e o Henri paga outras. Já no caso do Álvaro (pai de Zion), o juiz concedeu uma pensão de R$ 400. Nos últimos dois anos, ele não pagou nada. Mas eu não reclamei porque tenho condições de manter meus filhos.
Já tentaram puxar seu tapete?
Isso acontece sempre. Eu não ligava de abrir ou fechar desfiles e puxar a fila de modelos com o designer. A minha grande felicidade era ter conseguido mais um trabalho. O engraçado é que, quanto menos eu quis aparecer, mais apareci. Teve uma época em que eu abria muitos
desfiles no Exterior e muitas tops insistiam em ficar na minha frente. Numa das vezes, num comercial da Victoria’s Secret, uma ficava batendo em mim, passando na frente, porque queria ficar no meio para aparecer mais do que eu.
Se você não gosta de aparecer, por que decidiu ser modelo?
Porque minha mãe disse que dava dinheiro. Quando tentei desistir, ela falou: “Filha, o seu futuro no Brasil é ir para a escola e trabalhar como garçonete. Você quer trabalhar no McDonald’s?” Pensei: Garçonete, ficar de pé o dia inteiro? Que horror! Vou tentar mais um pouco.