Max G Pinto

1- Mônica, 45 anos, ginecologista, 2- Maria Élide, 65 anos, sexóloga, 3- Lúcia, 54 anos, publicitária, 4- Tereza, 59 anos, geógrafa e professora, 5- Martha, 60 anos, psicóloga, 6- Elizabeth, 57 anos, psicoterapeuta, 7- Maria Goreti, 55 anos, jornalista, 8- Eni, 59 anos, secretária-executiva, 9- Sônia 55 anos, coordenadora gráfica, 10- Dina, 52 anos, gerente

Ondas de calor, irritação, cansaço excessivo, insônia, depressão. Até pouco tempo atrás, as mulheres que entravam no processo da menopausa estavam limitadas a sofrer com esses e outros sintomas e torcer para que o período se encerrasse o mais breve possível. Hoje, uma feliz combinação de fatores está resultando no surgimento de uma nova, transformadora e revolucionária maneira de viver essa que é uma das mais delicadas fases da vida feminina. O primeiro motivo a impulsionar a busca de estratégias mais eficientes é numérico. Há atualmente no Brasil 10,6 milhões de mulheres – uma cidade de São Paulo inteira ou três vezes e meia a população do Uruguai – na meia-idade, atravessando o climatério, período caracterizado pela redução gradual do estrógeno e da progesterona, os hormônios responsáveis pelas características femininas. O processo culmina na última menstruação, a menopausa. Além de muitas, elas também são diferentes das integrantes das gerações passadas. Exigem saídas efetivas para os problemas. Na outra mão, e até para responder a essas demandas, há um incrível esforço da ciência para elucidar o que ocorre no organismo feminino durante esse tempo.

O resultado desse processo é animador. São várias informações fundamentais para melhorar a qualidade de vida da mulher durante e após o período. A mais importante delas é a constatação de que o que se faz ou se deixa de fazer nesta fase decidirá em boa parte como será o futuro físico e emocional dessa mulher. Nesse moderno entendimento, o período equivaleria em importância à chamada primeira infância, que vai do nascimento até os sete anos. Para os pediatras, ela determina em vários aspectos como será o desenvolvimento dos pequenos. O climatério/menopausa, por sua vez, seria a chave para uma velhice saudável e feliz ou, ao contrário, o início do fim.

Revelações da menopausa

Achados recentes sustentam essa tese. A maioria diz respeito aos impactos provocados pelo desequilíbrio hormonal sobre vários órgãos. Em especial, a queda do estrógeno. “Alguns anos atrás, imaginava-se que o hormônio tinha influência apenas no sistema reprodutivo. Hoje, sabe-se que sua ação é muito mais ampla”, explica o médico César Fernandes, presidente do Conselho Científico da Sociedade Brasileira do Climatério. De fato, os estudos mostram que o estrógeno protege o coração, o cérebro, os ossos, contribui para a vitalidade da pele, ajuda na regulação do humor e na satisfação sexual. Mas pode aumentar a chance de ocorrência de alguns tipos de tumores, como o de mama (a exposição prolongada a esse hormônio favorece o aparecimento da doença). Diante disso, o que se constata é óbvio: se o estrógeno é tão poderoso é evidente que praticamente o encerramento de sua produção terá sérias repercussões. Por isso, ou se age rapidamente para conter as conseqüências ou se sofrerá.

Max G Pinto

Progressos da ciência: "Há 20 anos o tratamento da menopausa
era precário. Hoje uso vários recursos para prolongar a vida
ativa das mulheres", diz Mônica de Andrade Moreira, 45 anos, ginecologista do

A primeira solução encontrada foi a terapia de reposição hormonal, a famosa TRH. O raciocínio era o de que, se falta progesterona e estrógeno, o jeito é repor os dois hormônios. À primeira vista, a estratégia foi bem-sucedida. Até que um estudo feito pelo Women’s Health Initiative, órgão do governo americano, revelou que a terapia aumenta o risco de câncer de mama e não protege das doenças cardiovasculares. A divulgação desencorajou os médicos a prescrever o tratamento. Nos EUA, houve queda de 50% nas indicações. Coincidência ou não, dados divulgados recentemente sobre os números de câncer de mama naquele país mostraram uma redução de 7% no total de casos em 2003. Para o médico Sérgio Simom, do Instituto Paulista de Oncologia, a redução no uso da TRH pode ter relação com a queda. “A terapia pode estimular o aparecimento de tumor”, afirma.

Max G Pinto

Vida com liberdade: "O fim da menstruação não é um drama.
Tenho energia, trabalho, namoro e vivo muito melhor",
conta Dina Lúcio da Silva, 52 anos, gerente

Ainda não há consenso sobre a reposição, vista até pouco tempo atrás como a única solução. Mas, como sempre acontece nesses casos, as informações alarmaram mas motivaram a criação de opções. Uma delas é a terapia de reposição com baixas dosagens hormonais. “As formulações mínimas de hormônios são eficazes e seguras”, garante o médico Fernandes. “Uso na menor quantidade possível e peço exames periódicos de controle”, explica a ginecologista Mônica Moreira, do Hospital São Luiz, em São Paulo. Simultaneamente, parte dos cientistas corre atrás de alternativas ainda mais seguras. Chegaram aos remédios à base de soja. Descobriu-se que as isoflavonas, substâncias presentes no alimento, têm efeitos semelhantes aos estrogênios. De olho no mercado, as indústrias farmacêuticas apostaram na descoberta. Hoje, o desenvolvimento de remédios com esse princípio ativo usa as mesmas e modernas tecnologias aplicadas na fabricação dos fármacos mais sofisticados.

Mas o que a medicina entende hoje é que ainda se está longe de uma solução meramente medicamentosa. Mais uma vez, a única certeza é a necessidade de investir em um estilo de vida saudável para viver melhor no futuro. Isso inclui praticar atividade física, parar de fumar e melhorar o cardápio. Um trabalho da Universidade de Leeds, na Inglaterra, divulgado na última semana, mostrou que ingerir 30 gramas de fibra por dia – o equivalente a duas colheres de sopa de aveia – reduz muito o risco para câncer de mama em mulheres que estavam no climatério.

Revelações da menopausa

Outro aspecto que vem merecendo atenção é a vida sexual. Por causa da queda de estrógeno, há acentuada redução da lubrificação vaginal e do desejo. Fatores que podem levar o assunto para um campo sofrido tanto para a mulher quanto para seu parceiro. Por isso, a medicina procura uma solução. Um dos focos é o estudo dos efeitos de drogas como o Viagra, uma das pílulas contra impotência disponíveis, e também de antidepressivos que melhorariam a lubrificação vaginal e a libido. Uma abordagem recente nesse campo privilegia, novamente, a atitude. Segundo os médicos, o casal deve se esforçar para manter uma rotina sexual intensa. A prática constante mantém em bom funcionamento os canais sangüíneos que contribuem para a irrigação da região vaginal, o que facilita o orgasmo. Na Universidade Federal de São Paulo, outra estratégia adotada é resgatar o desejo a partir de filmes e literatura com apelo erótico, jantar a dois, viagens e até novas lingeries. “Em muitos casos, o resgate da libido deixa a relação bem melhor do que era antes”, explica a médica Carolina Carvalho, coordenadora do ambulatório de sexualidade da instituição.

Priscila Prade/Divulgação

Conversa franca: "A reposição hormonal não resolve tudo.
No sexo, a mulher deve dizer ao parceiro o que gosta para
ter mais prazer", recomenda Angela Vieira, 54 anos, atriz

O impacto do empenho em conhecer melhor o período mudou comportamentos e trouxe novas perspectivas. Amparadas pelos novos recursos, as mulheres estão vivendo a menopausa com maior saúde e maturidade. Para a ginecologista Rosana Simões, do departamento de climatério da Unifesp, a mudança é evidente. “A menopausa hoje é vista de forma menos dramática”, diz. Nos consultórios de psicologia, os terapeutas observam que muitas mulheres extraem do fim da menstruação o estímulo para empreender uma espécie de revolução da maturidade. “O fim do ciclo reprodutivo pode ser um período de grande maturidade emocional e intelectual”, afirma a psicóloga Martha Murano, de São Paulo, orientadora de diversos grupos de terceira idade. Quando ela própria sentiu os primeiros fogachos, as ondas de calor que tanto incomodam as mulheres na menopausa, submeteu-se a sessões de terapia. A perspectiva de envelhecer a assustava. “Entendi que as mulheres da minha geração, que viveram a liberação sexual dos anos 60, teriam de encontrar um caminho para viver a menopausa de uma maneira diferente das nossas avós e mães. Estamos criando um novo modelo”, diz. Sensação parecida teve a gerente Dina da Silva, 52 anos. “Quando a menstruação começou a falhar, fiquei preocupada se me sentiria menos feminina ou muito velha. Não foi o que aconteceu. Tenho energia, trabalho, namoro”, conta.

fotos: Max G Pinto

Caminho certo: "Um médico disse que os fogachos e a tristeza
eram inevitáveis. Tratei-me com outro e voltei a me sentir bem",
diz Lúcia Schinzari, 54 anos, publicitária

Falar sem constrangimento dos sintomas é mais um comportamento que os especialistas encorajam. Foi essa atitude que mudou a história da psicoterapeuta Elizabeth Monteiro, 57 anos. Ela tinha as noções básicas de menopausa, mas foi surpreendida por sinais como depressão. “Não sabia que podia haver um terremoto emocional tão grande.” Depois de tratamento, a psicoterapeuta ganhou vigor. “Aos 48 anos, virei modelo e aos 54 lancei meu primeiro livro”, conta a autora de Criando filhos em tempos difíceis.

Na raiz da timidez que parte das mulheres mantém sobre o assunto pode estar uma discrepância entre o conhecimento e o preconceito. “Não importa a cara que você tenha, a menopausa ainda está associada à idade. Precisamos atualizar esse raciocínio”, afirma a médica e sexóloga Maria Élide Capobianco, 65 anos. A geógrafa Tereza Lajolo, 59 anos, experimentou os benefícios de lidar mais abertamente com os sintomas quase duas décadas antes. Em 1988, quando começou a sentir as ondas de calor, a ex-vereadora e ex-secretária de Transportes queixava-se aos sisudos colegas políticos. “Compartilhar a sensação ajudou-me a aliviar a tensão e a aceitar melhor as mudanças”, diz.

Infelizmente, a falta de diálogo e de conhecimento ainda sobrevive em alguns consultórios. A publicitária Lúcia Schinzari, 54 anos, sofreu quatro anos com depressão e fogacho. “O médico disse que era natural. Fui a outro especialista e descobri que não estava sendo tratada direito”, conta. O novo médico receitou antidepressivos e reposição. “Renasci e voltei a me sentir gente”, comenta.

A atriz Angela Vieira, 54 anos, é um exemplo de mulher que sabe usar com sabedoria todas as informações e recursos contra os efeitos negativos da menopausa. “Não engordei, não perdi o interesse pela vida nem a libido. E ainda experimento os prazeres da maturidade”, garante. Angela manteve a dieta e a rotina de exercícios. Acostumada a ter uma alimentação saudável desde criança, come a cada três horas e vai todo dia à academia se exercitar por duas horas. Outra providência foi consultar o médico assim que sentiu as primeiras ondas de calor. “Uso doses pequenas de hormônio e faço os exames de controle”, informa. Sintonizada com o entendimento mais moderno da medicina, ela também defende que só o tratamento médico não basta. “O hormônio não muda tudo. A mulher precisa se ajudar. No campo da sexualidade, a idade as torna mais livres para dizer ao parceiro do que gostam. Precisamos aproveitar isso”, sugere. Angela Vieira está fazendo a coisa certa. Basta olhar sua imagem para ter certeza disso.