O presidente Lula deve ter experimentado uma rajada de alívio na semana que passou. E os motivos para isso não vieram somente do anúncio do crescimento do PIB nacional. Que é uma boa notícia. Nem da direção dos ventos da crise que agora se concentram com força redobrada no Congresso e, com isso, apesar do depoimento do irmão de Celso Daniel, deixam o Palácio do Planalto razoavelmente abrigado das intempéries da crise. Pelo menos por hora.

O alívio de Lula veio mesmo foi dos apuros do presidente americano George W. Bush e, principalmente, da desfaçatez com que este os trata e do impacto que isso está ocasionando na paciência dos americanos. Já bastante impacientes, diga-se, com a brutal e inexorável subida do número de soldados americanos mortos no Iraque, fruto da teimosia de seu presidente. É claro que não há como desviar furacões. Muito menos o Katrina, um devastador força 4 em uma escala que vai até 5. Mas também é certo que este não é o primeiro furacão que atinge os Estados Unidos, e isso permitiu que o país, acostumado a esse tipo de tragédia, desenvolvesse uma logística de proteção e socorro às vítimas muito além do razoável. Mas o que se viu antes, durante e depois da passagem do Katrina pelo sul dos Estados Unidos detonou uma revolta considerável do povo americano em relação ao seu presidente e às falhas lá cometidas. Até porque W. Bush já estava havia bom tempo sem trabalhar, em férias no seu rancho no Texas. As imagens dos refugiados em New Orleans, a demora para a chegada do socorro, o caos instalado no que restou da cidade, com 80% de seu território alagado, fizeram lembrar Bagdá. Os saques, os tiroteios, os estupros tornaram New Orleans uma cidade sem lei. Como Bagdá depois da ocupação pelas tropas americanas. Inevitável a comparação também porque o primeiro comboio de socorro, levando mantimentos para New Orleans, só chegou quatro dias depois da passagem do furacão. Em Bagdá, as tropas americanas chegaram com muito mais facilidade.

O cineasta Michael Moore, autor dos filmes Farenheit 9/11 e Tiros em Columbine, escreveu ao presidente Bush perguntando: “Onde diabos o senhor colocou os nossos helicópteros militares?”

Com tudo isso, Bush faz qualquer presidente em apuros sentir-se mais confortável. Pelo menos momentaneamente.