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Ambos têm 31 anos, alcançaram o status de melhor do mundo muito jovens e ficaram milionários fazendo o que mais gostam. Ao longo da carreira, superaram momentos em que tudo parecia acabado, recusaram-se a desistir. Mas há um adversário teimoso, contra o qual golpes vencedores e dribles implacáveis nada podem fazer: a dor. O País se emocionou esta semana junto a dois de seus maiores esportistas de todos os tempos. Responsáveis por propiciar tantos momentos felizes a seus conterrâneos, Ronaldo Nazário e Gustavo Küerten choraram. O Fenômeno entrou em desespero ao ver-se às voltas com mais uma contusão grave no joelho. Guga foi às lágrimas após derrota na estréia do Brasil Open, o primeiro campeonato de sua turnê de despedida das quadras.

Maior artilheiro da história das Copas do Mundo, Ronaldo também será lembrado como o jogador das contusões mais dramáticas e midiáticas do futebol. O mundo acostumou-se a ver o Fenômeno gritar de dor. Na quarta-feira 13, o atacante do Milan nem encostara na bola (entrara 3 minutos antes, aos 11 do segundo tempo) quando subiu para tentar uma cabeçada entre os zagueiros do Livorno, em partida válida pelo Campeonato Italiano. Ao tocar os pés no chão o Fenômeno desabou com as mãos no joelho. Nélio Nazário, que assistia a tudo pela tevê, percebeu: o joelho do filho cedera novamente. “Tinha a esperança que não fosse nada grave. Mas quando vi a expressão dele…”, resigna-se o pai do craque.

Ao ser retirado de campo, o próprio Ronaldo arriscou o diagnóstico. “É igual da outra vez”, lastimou- se, numa referência à contusão que, em 2000, o afastou do futebol por quase dois anos. A suspeita do Fenômeno foi confirmada pelo médico Gérard Salliant, que acompanhou a cirurgia na quinta-feira 14 em Paris e operou o craque em 2000. A diferença é que, desta vez, foi o joelho esquerdo, em vez do direito, que não resistiu ao impacto. O procedimento todo durou pouco mais de duas horas e Salliant estimou entre nove meses e um ano o tempo mínimo de recuperação.

Na noite anterior ao infortúnio de Ronaldo, o tenista Gustavo Küerten entrou em quadra para a primeira de suas últimas partidas ao som de Emoções, de Roberto Carlos. As tímidas lágrimas que enxugou com a camiseta foram apenas o prenúncio da choradeira que seguiria ao final do jogo. Derrotado pelo argentino Carlos Berlocq (74º do ranking) por 2 a 0 (7/5, 6/ 1), ele empunhou o microfone no centro da quadra principal da Costa do Sauípe e, com voz embargada, abriu o coração. “Não é que não queira mais jogar, mas é que não consigo”, confessou Guga, em tom de desculpas, ao público.

 

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O desabafo impregnado de sinceridade e melancolia resumia todo o martírio do único brasileiro a alcançar o posto de número 1 do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais). Na partida contra Berlock, após bons momentos no primeiro set, o tenista solicitou atendimento do fisioterapeuta e foi medicado nos vestiários – cena comum em seus jogos desde a primeira cirurgia pela qual passou, em 2002. Na volta, virou presa fácil para o argentino. “O mais difícil para um atleta é ter a cabeça boa, pronta para o desafio, e a carcaça não acompanhar”, afirma o tenista Cássio Motta, ex-número 1 do Brasil.

Na Itália, embora parte da imprensa tenha se apressado em noticiar que a contusão encerraria a carreira de Ronaldo, ao que tudo indica, o atacante ainda jogará por mais alguns anos antes de seguir os passos de Guga. Além da idade e do sorriso fácil, os dois se assemelham na descomunal força de vontade para seguir em frente, mesmo quando a luz parece ratear no fim do túnel. Não se pode esquecer que o Fenômeno viveu seu auge na Seleção Brasileira na Copa de 2002 (quando foi campeão e artilheiro), meses após retornar de sua mais marcante contusão. O especialista em ortopedia esportiva Moises Cohen aposta que Ronaldo voltará aos campos. “Ele é um fora de série, já provou isso outras vezes”, afirma. O médico lembra que o fato de o atacante praticar um esporte coletivo aumenta suas chances de prolongar a carreira. “É diferente do Guga, que depende exclusivamente de seu próprio esforço.” Cohen, no entanto, reforça a gravidade da lesão. “Há apenas 50 casos de lesão do tendão patelar dos dois joelhos relatados na literatura médica de língua inglesa.”

É certo que, por mais rápida que seja a recuperação de Ronaldo, Guga já estará aposentado quando o craque for liberado para jogar. A última partida do tenista deve acontecer no mês de maio em Roland Garros, onde conquistou suas maiores glórias (ganhou três vezes o torneio). Antes, ele quer entrar em quadra em Madri, Florianópolis, Montecarlo, Roma e Hamburgo. Apontado pelo argentino Guillermo Coria como “o mais sensível número 1 de todos”, Küerten já avisou os amigos: “Até lá, vai ter muita choradeira.”