A terapia ministrada em Cid foi criada no Brasil pela equipe do químico Antonio Claudio Tedesco, do Centro de Nanotecnologia, Terapia Fotodinâmica e Engenharia Tecidual da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. Entre as vantagens, o procedimento é mais rápido, mais barato e menos agressivo do que a cirurgia para a retirada do tumor, que é a solução convencional. Atualmente, esse tratamento já pode ser feito em ambulatórios de São Paulo e Brasília e, até o fim do ano, chegará a Belém (PA) e a Rio Branco (AC). O grupo agora está pesquisando formas de usar o mesmo procedimento contra tumores na bexiga, próstata e útero. O grupo de Ribeirão Preto também criou uma pomada com nanocompostos para eliminar cáries e infecções na gengiva. “Ela mata as bactérias da cárie sem a necessidade de usar o motor para desgastar o dente”, explica o químico Tedesco. Como o produto usado na terapia dos tumores de pele, a pomada anticáries só entra em ação depois de ser bombardeada com luz vermelha.

Doenças de grande alcance, como a arterosclerose (provoca entupimento dos vasos e artérias, causa de infartos e derrames) também poderão colher frutos da nanomedicina. No Hospital da Criança da Filadélfia, nos Estados Unidos, os pesquisadores criaram uma nova geração de stents, que são pequenas próteses metálicas usadas para manter veias e artérias abertas e, desse modo, impedir a obstrução do fluxo sanguíneo. No novo produto, é possível repor as doses do medicamento contido no seu interior, o que evita o acúmulo de placas no dispositivo. “Ainda estamos testando em animais, mas o procedimento tem se mostrado eficiente”, disse à ISTOÉ o cardiologista Robert Levy, um dos líderes do estudo. Já na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, uma nanomolécula simulando as características do HDL, a fração boa do colesterol, promete varrer do interior das artérias as placas de gordura que podem causar obstruções.

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No Brasil, o laboratório Cristália está concluindo os estudos de uma anestesia de longa duração e de uma nanoestrutura para potencializar o efeito das vacinas. Há boas promessas também no tratamento de doenças cerebrais degenerativas, como Alzheimer e Parkinson. “A grande vantagem é que a associação de nanoestruturas aos remédios permite atravessar barreiras que os medicamentos atuais não vencem, chegando ao interior das células cerebrais”, diz Tedesco. No Canadá, o foco dos cientistas da Universidade de Calgary é a criação de uma vacina com nanopartículas contra a diabetes tipo 1. A doença surge quando o sistema imunológico começa a destruir por engano as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. A vacina ajuda o organismo a produzir algumas partículas que atacam essas células que estão trabalhando de forma equivocada. “As nanoestruturas guiam a droga e garantem que ela fique mais tempo no organismo, sem se degradar”, disse à ISTOÉ Pere Santamaria, coordenador do estudo. A vacina foi testada com sucesso em ratos e a equipe espera usar o mesmo princípio para outras doenças autoimunes.

Até as fraturas de ossos poderão ser mais bem cuidadas graças às pesquisas em nanotecnologia. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o professor Anderson Ferreira está empenhado em combinar nanotubos a doses de ácido hialurônico – substância muito usada por dermatologistas no rejuvenescimento da pele. Os nanotubos são estruturas minúsculas e super-resistentes, feitas de carbono, usadas para levar o ácido hialurônico até a região danificada dos ossos. Seu objetivo é promover a cicatrização e a regeneração óssea. E ele está no caminho certo. Testes realizados em animais deram ótimos resultados.

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Outra vertente importante para a medicina é a aplicação da nova tecnologia aos diagnósticos. Neste caso, o aumento de precisão trazido pelas nanomoléculas faz enorme diferença. Pesquisadores da Northwestern University, em Chicago, aprimoraram o teste para identificar tumores de próstata. Com a nanotecnologia, ele ficou 300 vezes mais sensível. O exame encontra no organismo indícios de uma proteína associada ao tumor. “Ele permite ver, prematuramente, se há chance de esse câncer voltar”, disse à ISTOÉ o urologista Shad Thaxton, um dos responsáveis pela pesquisa. Outros testes em desenvolvimento, para rastrear o câncer de próstata e de ovário, se utilizam de marcadores radiativos. “Quando as nanopartículas juntam-se às paredes das células doentes é possível ver as substâncias radioativas que carregam, por meio de aparelhos de detecção já existentes atualmente nos hospitais”, diz Mônica de Oliveira, da Rede Mineira de Pesquisas em Nanobiotecnologia.

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DIFERENÇA
Santos recebeu doses do interferon
na versão nano contra a hepatite C: reações mais suaves

É no desenvolvimento de testes mais precisos que atua um dos mais renomados cientistas dessa área, Xiaohu Gao, da Universidade de Washington. Ele e sua equipe trabalham com a inovadora proposta de criar nanoestruturas com várias funções. Em seu laboratório, elas recebem um fio de ouro e são recheadas com óxido de ferro. “Essa combinação permite enxergar células cancerígenas que não seriam detectadas por nenhum outro teste conhecido”, disse Gao à ISTOÉ. No seu invento, o ouro aumenta o contraste e a precisão das imagens diagnósticas. Já o óxido de ferro, sob ação de um aparelho de ondas eletromagnéticas, faz as nanopartículas se agitarem. Como elas têm características que as faz grudar-se aos tumores, o especialista consegue ver lesões iniciais observando as células que se movimentam. Os testes de Gao estão sendo avaliados em animais.

A presença dos nanocomponentes também está deixando mais precisos equipamentos como microscópios e câmeras usadas em cirurgias. “Um dia chegaremos aos nanorrobôs”, prevê Marcos Pinotti Barbosa, coordenador do Laboratório de Bioengenharia da UFMG. “Implantados na corrente sanguínea, eles agirão como soldados inteligentes. Em uma missão destruirão um inimigo e, no dia seguinte, outro”, diz ele. Com a rápida evolução das pesquisas em escala nano, isso poderá se tornar realidade num futuro não muito distante.