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PAPOULAS EM VETHEUIL, de Claude Monet, foi um dos quadros levados de um museu em Zurique

 

Eles geralmente agem em três. Preferem não usar armas – e, se usam, não deixam vítimas. São inteligentes, estudiosos, discretos e, acima de tudo, rápidos. Essas são as características dos ladrões de obras de arte, cujas ações são cada vez mais freqüentes no noticiário mundial. De dezembro de 2007 para cá, aconteceram três roubos a museus. Foram levadas oito obras – duas já recuperadas -, que, juntas, valem R$ 440 milhões. O mais recente ocorreu no domingo 10, quando três homens entraram no museu E.G. Buehrle, em Zurique, na Suíça. Um deles rendeu os funcionários e os outros pegaram as obras. Os clássicos Papoulas em Vetheuil, de Claude Monet; O menino de colete vermelho, de Paul Cézanne; Castanheiro em flor, de Van Gogh; e Conde Lepic e suas meninas, de Edgar Degas, foram levados em uma ação que durou três minutos. Quatro dias antes, duas telas de Pablo Picasso foram furtadas de uma exposição em uma galeria próxima dali, na cidade de Pfäffikon. Ninguém foi visto entrando ou saindo do local e a ausência das obras só foi notada ao soar o alarme. Em nenhum dos episódios os bandidos foram presos ou as obras recuperadas.

Apesar de o Brasil não ter tradição nesse tipo de crime – exatamente por não ter tantos quadros de valor quanto outros países -, o furto que completa essa lista dos mais recentes aconteceu no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em dezembro do ano passado. Segundo a Interpol, o País é o quarto do mundo em roubo de arte. "O que mais some aqui não são quadros de grandes pintores, mas documentos históricos e objetos de menor valor, que dificilmente saem na mídia", diz o especialista em segurança privada Ricardo Chilelli, diretor-presidente da RCI First-Security and Inteligence Advising.

 

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As obras roubadas do Masp foram recuperadas em menos de um mês. Mas o episódio serviu para expor as graves falhas de segurança do museu. Os bandidos entraram de madrugada munidos de um macaco hidráulico e um pé-decabra e, em três minutos, deixaram o local carregando O retrato de Suzanne Bloch", de Picasso, e O lavrador de café, de Cândido Portinari, ainda nas molduras, em plena avenida Paulista. Três suspeitos foram presos e um quarto está foragido – esse teria emprestado a casa para guardar a obra após o roubo. Mas a polícia ainda não sabe se o crime foi encomendado.

Essa, no entanto, não foi a estréia brasileira no cenário internacional dessa categoria de roubos. "Em fevereiro de 2006, com a ação no Museu Chácara do Sol, no Rio de Janeiro, o Brasil entrou para a rota do tráfico de quadros", diz Chilelli. Na ocasião, quatro obras foram levadas (leia quadro). Um mês depois, as telas foram colocadas à venda em um site alimentado na Rússia. Com o estardalhaço, foram retiradas do ar em 48 horas e nunca mais se ouviu falar delas. Apenas as molduras foram encontradas, queimadas, em uma favela carioca.

As obras de arte roubadas servem principalmente a três finalidades. A primeira – e mais antiga – é decorar a casa de colecionadores, a maioria russos, chineses ou do Leste Europeu. São milionários apaixonados por arte – ou pelo glamour e poder que ela representa. São furtadas também para que sua devolução possa ser negociada com os próprios donos ou com as seguradoras. Essa modalidade é chamada de artnapping – uma adaptação da palavra inglesa kidnapping, que significa seqüestro. E, por último, essas peças podem virar moeda de troca entre o crime organizado internacional. Segundo Chilelli, desde os ataques terroristas de 11 de setembro as operações financeiras têm sido acompanhadas de perto pelas autoridades. Portanto, quem não ganha a vida honestamente evita colocar seu dinheiro em banco – o que explica o aumento da incidência dessa modalidade de crime no últimos anos. "Quadros estão sendo trocados por armas ou drogas. E vice-versa", afirma.

O roubo de bens artísticos e históricos já é o terceiro crime mais rentável do mundo – depois do tráfico de armas e de drogas – e movimenta US$ 4 bilhões ao ano. Há, hoje, 145 mil obras de arte roubadas e o índice de recuperação é de uma em dez. No Brasil, a maioria dos espaços de exposição pública de arte carece dos equipamentos de segurança recomendados pelos especialistas, ao contrário dos locais mantidos por colecionadores particulares. Há, no País, cerca de 150 salas-cofre construídas especialmente para manter quadros longe das mãos dos gatunos.

OBRAS DESAPARECIDAS

 

 

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A DANÇA, de Pablo Picasso
Ao lado de Dois balcões, de Salvador Dalí; Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse, e Marina, de Claude Monet, a obra foi levada no dia 14 de fevereiro de 2006, em plena tarde de Carnaval, do Museu Chácara do Céu, no Rio de Janeiro (RJ). A ação foi protagonizada por quatro homens armados, que chegaram a manter turistas como reféns. O conjunto é estimado em US$ 25 milhões.

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VISTA DO MAR EM SCHEVENINGEN, de Van Gogh
Com o auxílio de uma escada de mão, dois homens subiram pelo telhado e entraram no museu Vincent Van Gogh, em Amsterdã, na Holanda, em dezembro de 2002. Em poucos minutos, levaram duas pinturas do artista holandês. Além de Vista, roubaram Congregação deixando a Igreja Reformada em Nuenen. Juntas, as obras foram avaliadas em US$ 30 milhões.

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A TEMPESTADE NO MAR DA GALILÉIA, de Rembrandt
Em março de 1990, dois homens não identificados levaram 12 quadros – ou US$ 300 milhões em obras de arte – do museu Isabella Stewart Gardner, em Boston, nos Estados Unidos. Além de Tempestade, ainda estão desaparecidos outros dois trabalhos de Rembrandt, um de Vermeer, um de Govaert Flinck e um de Manet.

 

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NASCIMENTO DE SÃO LOURENÇO E SÃO FRANCISCO, de Caravaggio
Em outubro de 1969, dois ladrões retiraram da moldura – prática comum entre os ladrões de quadros – e levaram do Oratório de São Lourenço, em Palermo, na Itália, o clássico de Caravaggio. Especialistas avaliam a obra em US$ 20 milhões.