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Tunga se autodeclara um velho leitor de textos sobre alquimia. Para ele, essa antiga tradição, na qual se encontram a ciência e a magia, também dá origem aos conhecimentos da arte. “Obviamente não pretendo achar o ouro no meio de meu trabalho. A alquimia é apenas uma metáfora”, diz o artista pernambucano, que este mês expõe concomitantemente em São Paulo e Salvador. A palavra “cooking” (cozinhar, em inglês) no título da exposição na Galeria Milan é uma de suas inúmeras referências ao forno – instrumento amplamente usado em laboratórios por alquimistas, em seus estratagemas para transformações. “Aliás, o olhar é uma espécie de cozinhar, onde digerimos aquilo que olhamos”, declara Tunga. 

A exposição “Cooking Crystals Expanded” apresenta novos trabalhos em que a matéria do cristal aparece como referência conceitual à continuidade entre corpo humano e mundo exterior. As instalações estão arranjadas como emaranhados de cristais e frascos de urina suspensos por redes e fios. Como as tranças e os ímãs de ferro, o cristal e a urina são símbolos comuns ao seu trabalho e se integram ao que o artista chama de uma “estrutura cristalográfica” ou “nebulosa escatológica”.
 

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“Tanto a terra quanto o nosso corpo produzem cristais, essa é uma constelação lógica, uma zona metabólica. A urina em nosso corpo também se apresenta como uma forma cristaloide”, diz ele. A alquimia, que torna possível transformar corpo em cristal e cristal em arte, é aquilo que mais interessou o artista ao longo de sua carreira. As duas instalações da mostra, “Cristalinos” e “Cooking Crystals”, exibida na 3ª Bienal de Arte Contemporânea de Moscou, em 2009, têm, portanto, um caráter de síntese de sua produção. 
 
Outro vetor importante da obra de Tunga é a instalação “À Luz de Dois Mundos”, atualmente exposta no Palacete das Artes Rodin, em Salvador. Criada em 2005, a obra é inspirada nas pinturas de Frans Post, realizadas durante a sua viagem à América, no século XIX. Antes de ser exibida no Brasil, esteve exposta no museu do Louvre, para onde foi feita especialmente, e no espaço PS1, do MoMA de Nova York. Composta por crânios e esqueletos metálicos, tranças e redes, a instalação faz uma referência às possíveis dificuldades que o pintor teria encontrado ao lidar com uma luminosidade totalmente diferente no continente sul-americano. Tunga imaginou que este pintor tenha criado uma técnica de pintura diversa da que usava até então. “Fazer arte é fazer uma ficção deixando aparente o processo de fantasia”, explica.